O discurso da renovação na prática: franceses impacientes com Macron
O presidente da França, Emmanuel Macron, ainda não completou 100 dias no cargo e a imagem dele já está sofrendo um enorme desgaste. Talvez a expectativa em cima do não-político, que não é nem de direita, nem de esquerda, tenha sido irreal. Talvez na prática seja muito mais difícil aplicar discursos de renovação. Ou talvez os franceses estejam com a paciência cada vez mais curta mesmo.
O fato é que Macron já tem popularidade mais baixa até mesmo que seus antecessores no mesmo período de governo, entre eles François Hollande e Nicholas Sarkozy.
Somente 36% dos franceses dizem hoje que estão satisfeitos com seu novo líder, de acordo com as pesquisas de opinião divulgadas no país. E Macron não tem feito muito para ajudar a reverter esse quadro.
A mais nova polêmica do governo dele é a tentativa de institucionalizar o cargo de primeira-dama. Macron quer criar esse posto, algo que não existe oficialmente na constituição francesa, dando um escritório físico, verbas de gabinete e funcionários para sua esposa. Além de um salário, é claro.
A medida até poderia ser considerada algo de menor importância não fosse o seguinte: neste exato momento a França está discutindo o que Macron chama de “lei da moralidade” que pretende proibir os parlamentares do país de empregarem seus parentes. É no mínimo contraditório.
Lembrem-se que o candidato da direita nas últimas eleições, François Fillon, era o grande favorito até descobrirem que ele empregava a esposa em seu gabinete e ela não passava de uma funcionária-fantasma.
Emmanuel Macron está passando por um início de governo difícil, tumultuado, que aos poucos tem minado a sua credibilidade com o povo francês. Os adversários dizem que a falta de experiência na política ajude a explicar as medidas tomadas em momentos inoportunos pelo novo presidente.
O desgaste maior, no entanto, ainda está por vir. No mês que vem, quando acabar o recesso de verão, a Assembleia francesa começará a votar a reforma trabalhista do país. Se o tema é assunto quase proibido no Brasil, na França a população é ainda mais sensível quando se fala em mexer nos direitos dos trabalhadores. Macron terá que mostrar habilidade política em alto nível para executar seus planos.
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