ONU lembra Holocausto e adverte que “ainda não há antídoto” contra genocídios

  • Por Agencia EFE
  • 28/01/2015 19h47

Mateo Sancho Cardiel.

Nações Unidas, 28 jan (EFE).- As Nações Unidas lembraram o Dia do Holocausto nesta quarta-feira com um ato no qual seu secretário-geral, Ban Ki-moon, destacou que “ainda não há antídoto” para evitar os genocídios, e o presidente de Israel, Reuven Rivlin, pôs em dúvida a efetividade do organismo internacional.

“Ainda não encontramos o antídoto para o veneno que levou ao genocídio de 70 anos atrás. Enquanto lembramos o que se perdeu no passado e reconhecemos os riscos do presente, sabemos o que é preciso fazer e que temos que fazê-lo juntos”, disse o principal responsável da ONU.

O Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto foi declarado em 2005 pelas Nações Unidas e é recordado a cada 27 de janeiro, por ser o dia no qual as tropas soviéticas libertaram o campo de concentração nazista de Auschwitz-Birkenau ao fim da Segunda Guerra Mundial.

No entanto, a cerimônia da ONU, da qual participaram várias vítimas do Holocausto e soldados do Exército Vermelho que participaram da operação, foi adiada para hoje após o fechamento da sede das Nações Unidas ontem pela tempestade que afetou o nordeste dos Estados Unidos.

Encarregado de abrir o ato, Ban lembrou que “o antissemitismo continua sendo uma violenta realidade. Os judeus seguem sendo assassinados só pelo fato de serem judeus. O extremismo e a desumanização estão presentes no mundo todo”.

O secretário-geral lamentou “o fanatismo em mãos de oportunistas políticos e ultranacionalistas” e convocou a comunidade internacional a “responder ao terrorismo e à provocação de modo que se resolva o problema, não que se multiplique”.

Após a participação do diplomata coreano, os presentes receberam de pé o presidente de Israel, Reuven Rivlin, que, após algumas palavras em inglês, citou o poeta Paul Zelam, também vítima do Holocausto, e disse: “Só na língua materna alguém pode dizer sua própria verdade. Em uma língua estrangeira, o poeta mente”.

Rivlin assegurou que “o massacre de nações e comunidades não nasceu na Alemanha nazista e não acabou com a abertura das portas de Auschwitz-Birkenau, Majdanek e Buchenwald” e que “o mal não é propriedade de uma religião específica ou não é atribuível a um país ou a um grupo étnico”.

“Nestes dias devemos perguntar-nos honestamente: nossa luta, a luta desta Assembleia contra o genocídio, é suficientemente efetiva? Foi efetiva na Bósnia? Foi efetiva em prevenir os crimes em Khojaly? Ou os crimes dos talibãs contra os afegãos? É efetiva na Síria ou enfrentando as atrocidades do Boko Haram na Nigéria?”, perguntou.

“Temo que a Convenção de Prevenção e a Sanção do Delito de Genocídio que entrou em vigor há 64 anos se tornou um documento simbólico”, respondeu ele mesmo.

Também houve discursos do vice-presidente da Assembleia Geral, Denis Antoine, e do representante especial dos Estados Unidos para Relações Exteriores, David Pressman, que pediu “compromisso individual” para denunciar demonstrações de intolerância cotidianas.

“Devemos lembrar a nós mesmos que seis milhões de judeus não poderiam ter sido exterminados sem a cumplicidade da passividade dos indivíduos”, comentou.

No entanto, o momento mais emotivo chegou com a participação de Jona Laks, que sobreviveu junto com sua irmã gêmea aos campos de concentração e aos experimentos médicos do doutor Josef Mengele e recriou hoje minuciosamente sua dramática experiência.

“O Holocausto significou o fracasso de 2.000 anos de civilização ocidental. Não só morreu muita gente, mas o conceito de humanidade”, ressaltou.

“A mensagem é não esquecer, não esquecer nada. A vida humana é sagrada e temos que fazer todo o possível para evitar tragédias deste tipo. Estou aqui perante os senhores como lembrança dos dias em que o povo judeu pagou com seu sangue pela ignorância do mundo”, concluiu. EFE

msc/rsd

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