Pais de estudantes desaparecidos no México exigem cancelamento das eleições

  • Por Agencia EFE
  • 27/03/2015 01h29

Cidade do México, 26 mar (EFE).- Os familiares dos 43 estudantes desaparecidos no México advertiram nesta quinta-feira, quando se completam seis meses do incidente, que não permitirão a realização das eleições no estado de Guerrero, enquanto a procuradoria defendeu sua “investigação transparente” do caso.

Os pais dos desaparecidos lideraram diversos atos de protesto, incluindo um comício na sede do Instituto Nacional Eleitoral (INE) na Cidade do México, onde uma delegação de familiares se reuniu com membros do conselho geral do organismo.

No encontro, os pais dos alunos da Escola Normal Rural de Ayotzinapa entregaram um documento em que expõem uma série de “pedidos que não se resumem somente a não realização de eleições” no estado sulista, disse à Agência Efe um porta-voz do INE.

Os parentes apresentaram propostas como eleições por usos e costumes, uma figura incluída na legislação mexicana para as regiões indígenas e que prevê a votação por mão alçada.

Além disso, propuseram “governos populares”, segundo o porta-voz, que disse que os conselheiros eleitorais “reconheceram a vontade de diálogo dos pais e do movimento”, assim como sua reivindicação por justiça e castigo para os responsáveis do desaparecimento.

Os conselheiros afirmaram “que analisariam os pedidos” para “dar uma resposta por escrito mais adiante”, acrescentou o porta-voz, sem detalhar a data.

O advogado Isidoro Vicario, do centro de direitos humanos Tlachinollan, que apoia os pais, lembrou que as autoridades do município de Iguala, em Guerrero, estiveram envolvidas no desaparecimento dos 43 jovens.

Na noite de 26 de setembro de 2014 policiais de Iguala detiveram os estudantes e os entregaram a membros do cartel Guerreros Unidos, que os assassinaram e incineraram seus restos em um depósito de lixo no município vizinho de Cocula, de acordo com a investigação oficial.

O então prefeito de Iguala, José Luis Abarca, do esquerdista Partido da Revolução Democrática (PRD), foi detido em novembro do ano passado e está submetido a processo penal como suposto autor intelectual da agressão aos jovens.

Vicario declarou à imprensa que o texto entregue ao INE pretende “expor” por que não há condições para que as autoridades de Guerrero sejam eleitas da maneira convencional.

No próximo dia 7 de junho mais de 83 milhões de mexicanos estão convocados às urnas para escolher 1.996 cargos, incluindo 500 deputados federais e os governadores de nove estados, entre eles Guerrero.

Os pais dos jovens não acreditam na versão da procuradoria sobre o caso e exigem a busca dos estudantes com vida, assim como a abertura de uma linha de investigação sobre o papel das forças federais nos incidentes de Iguala, nos quais também morreram seis pessoas e 25 mais ficaram feridas.

“Foram seis meses de dor e movimento, seis meses sem encontrar nossos filhos; não é nada simples”, declarou Melitón Ortega, porta-voz dos pais, perante uma centena de manifestantes concentrados nas instalações do INE.

Os familiares lideraram mais tarde uma manifestação na qual milhares de mexicanos marcharam desde o Ángel de la Independencia, símbolo da Cidade do México, até o Monumento da Revolução para lembrar os desaparecidos e exigir justiça.

Por sua vez, a Procuradoria Geral da República reiterou hoje que “realizou uma investigação transparente, exaustiva e apegada ao direito” sobre o desaparecimento.

A procuradoria destacou que até agora deteve 104 pessoas, 48 delas policiais de Iguala, 16 agentes municipais de Cocula e 40 membros do cartel de Guerreros Unidos, e ainda tem que cumprir nove ordens de apreensão.

“A seis meses deste lamentável incidente, as instituições do governo da República não cessaram em seu compromisso para deter o resto dos prováveis responsáveis destes fatos e colocá-los à disposição da justiça”, ressaltou. EFE

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