Papel do Brasil no cenário mundial é tema de divergências entre candidatos

  • Por Agencia EFE
  • 23/10/2014 17h18

Pablo Giuliano.

São Paulo, 23 out (EFE).- A política externa é uma das maiores divergências entre a presidente e candidata à reeleição, Dilma Rousseff (PT), e o candidato do PSDB ao Planalto, Aécio Neves, visando as eleições presidenciais do próximo domingo.

O Mercosul, bloco que para os governos do PT é o lugar de partida do Brasil para o mundo, está no eixo das propostas dos programas dos candidatos, mas com sentidos opostos.

Aécio, por sua vez, propõe flexibilizar a relação com o Mercosul para assinar acordos de livre-comércio, retomar as relações com as potências e eliminar o conceito de diplomacia Sul-Sul e o que o candidato chama de “política externa ideológica”.

Dilma, por outro lado, aposta em consolidar a relação com os países da região e também com o grupo Brics, que além do Brasil é formado por Rússia, Índia, China e África do Sul.

“As crises criaram cenários. Os Brics em 2010 eram uma ideia geral e hoje tem uma consistência maior, com a criação do fundo conjunto de reservas e o banco dos Brics”, disse à Agência Efe o assessor especial em Assuntos Internacionais da presidência, Marco Aurélio Garcia.

Recentemente, em um debate em São Paulo, García declarou que a política de Aécio para as relações internacionais “reduziria a pó a América Latina” e buscaria “ressuscitar um corpo devidamente enterrado” como a Área de Livre-Comércio das Américas (Alca).

A diplomacia brasileira desde que o PT chegou ao governo em 2003, com Luiz Inácio Lula da Silva, voltou seus olhos para o mundo emergente, do qual surgiram os Brics, e para as relações de cooperação com a África e a América Latina.

Do outro lado, Aécio prefere dar um novo impulso às relações com as potências. “Infelizmente durante o governo da presidente Dilma, ficamos atados a uma relação ideológica com nossos vizinhos, sem ampliar nossas relações com potências como a UE e os Estados Unidos”, disse o candidato social-democrata no último domingo à Agência Efe.

As atuais relações com Washington passam por uma crise por causa da espionagem sofrida por Dilma – caso divulgado pelo ex-analista da Agência Nacional de Segurança (NSA) Edward Snowden -, o que provocou o cancelamento de uma visita de Estado que a presidente faria aos EUA em 2013.

Reforçar as relações com os Estados Unidos é a proposta de Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil em Washington e coordenador da estratégia diplomática de Aécio.

Barbosa acredita que é preciso “desideologizar” a diplomacia e afirma que o perfil diplomático do PSDB de Aécio se identifica mais com a Aliança do Pacífico, integrada por México, Colômbia, Chile e Peru.

Ao ser questionado pela Efe sobre o trato com Washington, o diplomata disse: “vamos encontrar a forma de superar as dificuldades políticas e diplomáticas”.

Nessa linha, ele falou em pôr em “pé de igualdade” as relações com Estados Unidos, Japão e a União Europa com as do mundo emergente, “como sempre foi a política externa brasileira”, com ênfase no déficit comercial da balança com as potências.

“O governo não sabe o que quer em relação aos Estados Unidos, a China e os Brics. Com a China, deveremos diversificar as exportações, encontrar nichos de mercado e com os Brics ampliar as relações”, afirmou.

Outro ex-embaixador em Washington e ex-ministro de Fazenda em 1994, Rubens Ricúpero criticou o rumo oficial e disse que “existe uma centralização excessiva no governo” com uma “política externa reativa que se resume ao Mercosul e aos Brics”. Para ele, é necessário “recriar uma agenda comum” entre Brasil e Estados Unidos com alcance multilateral.

Por sua vez, Cristina Pecequilo, professora de Relações Internacionais da Universidade Federal Paulista (Unifesp), defende a política diplomática dos governos Lula e Dilma.

“De qual Brasil exatamente fala a oposição? Do reconhecido como potência pelos principais poderes internacionais do Norte e do Sul? Ou daquele que deseja estabelecer novos parâmetros com menor ênfase global?”, pergunta. EFE

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