“Pensei que nesta altura teríamos avançado mais”, afirma Raúl Castro

  • Por Agência EFE
  • 19/04/2018 16h12
EFE "Pensávamos que teríamos, se não resolvido os problemas, deixado em processo de execução, com diferentes graus de desenvolvimento", disse Castro

O presidente em final de mandato de Cuba, Raúl Castro, reconheceu nesta quinta-feira (19) que, apesar do “complexo” caminho transitado desde a aprovação das reformas econômicas e sociais impulsionadas durante seu governo, pensava que “nesta altura” se teria “avançado mais” na sua aplicação.

“Pensávamos que nesta altura teríamos avançado mais, que já teríamos, se não resolvido os problemas, organizado tudo, planejado e deixado em processo de execução, com diferentes graus de desenvolvimento”, disse Castro no fim da sessão do parlamento cubano que ratificou hoje seu sucessor, Miguel Díaz-Canel.

O primeiro-secretário do governante Partido Comunista de Cuba mencionou a atual dualidade monetária e cambial do país como um dos desafios cuja superação “continua dando sérios dores de cabeça” ao governo, e manifestou a intenção da ilha de seguir impulsionando o setor privado.

Nesse sentido, destacou que não renunciam à ampliação da modalidade de “trabalho por conta própria”, que “longe de significar um processo de privatização neoliberal da propriedade social, permitirá ao Estado desprender-se da administração de atividades não estratégicas”.

Em seguida, acrescentou que prosseguirão com “o experimento das cooperativas não agropecuárias”, uma das modalidades de trabalho não estatal mais propagadas.

“Em ambas direções foram alcançados resultados nada desprezáveis, mas que puseram em evidência erros no seu atendimento, controle e acompanhamento que favoreceram o surgimento de não poucas manifestações de indisciplinas, evasão de obrigações tributárias, em um país onde quase não pagavam impostos”, afirmou.

Estas “ilegalidades e violações das normas em prol de um acelerado enriquecimento pessoal” não foram enfrentadas oportunamente, o que “acarretou a necessidade de modificar vários regulamentos”.

A reorganização do setor privado da ilha, que emprega mais de meio milhão de cubanos, começou em agosto do ano passado com a aplicação de novas disposições, entre elas a paralisação temporária da entrega de novas licenças, em vigor até hoje.

O ex-presidente também mencionou as demoras na “reforma salarial e da previdência, bem como a supressão de gratuidades indevidas e subsídios generalizados a produtos e serviços”.

“Nunca tivemos ilusões de que seria um caminho curto e fácil. Sabíamos que iniciávamos um processo de enorme complexidade, que pelo seu alcance abrangia todos os elementos da sociedade e requeria vencer o obstáculo colossal de uma mentalidade cimentada em décadas de paternalismo com sequelas significativas no funcionamento da economia nacional”, ressaltou.

Castro também admitiu atrasos na reforma da Constituição, cujo processo começará no próximo mês de julho, durante a primeira sessão da Assembleia Nacional do Poder Popular (ANPP, parlamento unicameral), segundo anunciou no seu discurso.

O veterano líder de 86 anos atribuiu a demora e os erros “ao ânimo de avançar mais rápido, mais do que à capacidade de fazer as coisas bem”, o que “deixou espaço para improvisações” e para a ingenuidade “sobre os riscos associados à aplicação de várias medidas que, além disso, não tiveram a condução, controle e acompanhamento adequado”.

Em seu extenso discurso, Raúl Castro reiterou que este “processo de mudança no modelo econômico e social, sob qualquer circunstância, não poderia significar a aplicação de terapias de choque contra os mais necessitados, que no geral são os que mais firmemente apoiam à revolução socialista”.

“Considero que aprendemos importantes lições dos erros cometidos no período transcorrido e a experiência acumulada nos permitirá continuar em um passo mais seguro, com os pés e o ouvido bem próximos à terra e assim evitar retrocessos inconvenientes”, enfatizou.

“Perante as atuais tensões financeiras não resta outra alternativa que planejar bem e com base segura. Poupar e suprimir toda despesa não imprescindível”, indicou o ex-governante, que ainda ficará no comando do Partido Comunista até 2021 para permitir uma transição “efetiva” no país.

Em referência ao difícil “período especial”, a grave crise em que a ilha ficou afundada após a retirada dos subsídios que recebia da extinta União Soviética, assegurou que Cuba hoje não está “em uma situação dramática”.

“O cenário agora é muito diferente, contamos com base sólida para que essas circunstâncias não se repitam. Nossa economia tem se diversificado e crescido, mas o dever dos revolucionários é preparar-se para a pior das variantes, não para a mais confortável”, finalizou.

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