Raúl Castro relata “longo histórico de agressões” dos EUA, mas exime Obama

  • Por Agencia EFE
  • 11/04/2015 15h57

Ao discursar pela primeira vez em uma Cúpula das Américas, o presidente de Cuba, Raúl Castro, fez neste sábado um relato histórico de “agressões imperialistas” à América Latina, mas eximiu delas o atual presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.

Em discurso que durou exatos 42 minutos, Castro destacou em seu relato as “guerras, conquistas e intervenções” dos EUA, país ao qual se referiu como “força hegemônica que despojou de territórios toda nossa América e se estendeu até o rio Bravo”.

Nesse mesmo sentido, lembrou que, no final do século XIX, o Congresso dos EUA autorizou “intervir militarmente em Cuba” e que isso abriu passagem “à instalação de uma base em Guantánamo, que até hoje ocupa nosso território”.

Nessa linha histórica, chegou ao século XX, quando afirmou que “predominou em relação à América Latina a política das canhoneiras” e houve “sucessivas intervenções para derrubar regimes democráticos” na América Latina, onde “foram instaladas ditaduras em 20 países, 12 delas de forma simultânea”.

Sempre em clara referência aos Estados Unidos, assegurou que “só na América do Sul foram assassinadas centenas de milhares de pessoas” e citou como caso mais “brutal” o golpe de Estado de 1973 contra o presidente chileno, Salvador Allende, cujo exemplo é “imperecível”, disse.

Quando concluía o repasse histórico, Castro decidiu pedir “desculpas” a Obama.

“A paixão me sai pelos poros quando se trata da revolução, mas peço desculpas ao presidente Obama porque ele não tem nada a ver com tudo isto”, declarou, para em seguida receber uma forte ovação.

“Todos (os presidentes anteriores dos EUA) têm dívidas conosco, mas não o presidente Obama”, que “é um homem honesto” e com uma “forma de ser que obedece a sua origem humilde”, comentou.

Castro também avaliou como “um passo muito positivo” a decisão de Obama de tirar Cuba da lista de países que, segundo os Estados Unidos, são patrocinadores do terrorismo, e comentou com ironia essa acusação que a Casa Branca mantém há décadas.

“Dizem que somos terroristas. E, sim, fizemos alguns atos de solidariedade com muitos povos que podem ser considerados terroristas no imperialismo”, declarou, para esclarecer que se referia a missões humanitárias em diferentes países em vias de desenvolvimento.

Após ressaltar o “esforço” que faz junto com Obama para estabelecer relações “normais”, Castro instou os países da América Latina a apoiar o presidente dos Estados Unidos em “sua intenção de liquidar o bloqueio” à ilha.

“O presidente Obama nasceu sob a política do bloqueio a Cuba, também não tem culpa disso, mas esse e outros elementos deverão ser resolvidos no processo de normalização de relações”, indicou.

Por outro lado, Castro deixou a Obama uma firme exigência em relação à Venezuela, um país que, sustentou, “não é nem pode ser uma ameaça contra a segurança dos Estados Unidos”.

O líder cubano considerou “positivo que o presidente Obama tenha reconhecido isso”, mas exigiu que “sejam revogadas” as sanções aplicadas à Venezuela e manifestou “todo o apoio de Cuba ao governo legítimo e à união cívico-militar liderada pelo presidente Nicolás Maduro”.

Ao falar da Venezuela, Castro subiu o tom ao afirmar que os cubanos são os que “melhor conhecem” o processo de “agressão” que “sofre” o governo bolivariano.

“Nós sabemos porque (os venezuelanos) estão passando pelo mesmo caminho pelo qual nós passamos e estão passando pelas mesmas agressões pelas quais nós passamos”, enfatizou, ao mesmo tempo em que socou a mesa.

Castro também mencionou indiretamente os EUA em relação a outros assuntos, como quando declarou o apoio cubano à soberania argentina sobre as ilhas Malvinas e à “defesa da soberania financeira desse país” contra os chamados “fundos abutre”.

Além disso, manifestou o respaldo de Cuba e de “todos os povos latino-americanos ao empenho do povo latino-americano de Porto Rico para conseguir a independência”.

Em outra alusão direta aos EUA, Castro também afirmou que “não se pode aceitar que menos de uma dúzia de impérios, principalmente norte-americanos, determinem o que se vê ou se lê no planeta” e considerou “inaceitável que sejam empregadas ferramentas informáticas para agredir ou espionar outros Estados”.

Quando concluía seu discurso, Castro estendeu uma mão a Obama, a quem disse diretamente que “que estamos aqui e temos a oportunidade de aprender a respeitar as tolerâncias e conviver em paz, como bons vizinhos”.

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.