Religiosos reunidos no Cazaquistão pedem diálogo político contra extremismo

  • Por Agencia EFE
  • 18/09/2014 18h35

Arturo Escarda.

Astana, 18 set (EFE).- Líderes religiosos de todo o mundo, reunidos nesta quinta-feira em Astana para preparar seu Congresso trienal, demonstraram unidade e determinação para serem escutados pela classe política em um mundo afetado como nunca por guerras que frequentemente são apresentadas como conflitos entre civilizações.

“É muito necessário que o Congresso transcenda o diálogo entre os líderes religiosos para promover outro fórum, entre líderes religiosos e políticos. E deve ser um diálogo entre pessoas que se escutam”, disse em entrevista para a Agência Efe o presidente do Senado do Cazaquistão, Qasim Zhomart Tokaev.

Importantes representantes do islã, diversas igrejas cristãs, líderes do budismo, judaísmo, hinduísmo, taoísmo e xintoísmo se encontraram na capital cazaque na 13ª reunião da Secretaria do Congresso de Líderes das Religiões Mundiais e Tradicionais.

A quinta edição do Congresso, que será realizada em Astana entre os dias 10 e 12 de junho de 2015 com o título “Diálogo entre líderes religiosos e políticos em nome da paz e o desenvolvimento”, quer abrir um novo espaço para a comunicação e a cooperação.

“Convidaremos políticos que sejam realmente capazes de contribuir ao diálogo entre distintas religiões. Entre eles, certamente, haverá presidentes e primeiros-ministros”, disse em entrevista coletiva o vice-ministro de Relações Exteriores cazaque, Yerzhan Ashikbaev.

Só assim, como reiteraram muitos dos reunidos em Astana, será possível passar das palavras à ação, algo considerado fundamental para se buscar uma solução definitiva para uma série de conflitos com uma falsa, segundo eles, tintura religiosa defendida justamente por aqueles que iniciam as guerras.

Com os extremismos islamitas no centro de atenção mundial, devido, sobretudo, à ascensão da organização jihadista Estado Islâmico no Iraque e na Síria, todos os líderes reunidos em Astana deixaram claro que de nenhuma maneira se pode relacionar o terrorismo com uma das religiões mais importantes do planeta.

“Todos os líderes reunidos hoje aqui destacaram que o islã não tem nada a ver com o terrorismo. É algo que, sobretudo, sublinharam representantes das religiões cristãs”, disse à Efe Yerzhan Mayamerov, mufti supremo do Cazaquistão.

O chefe espiritual do Conselho dos muçulmanos cazaques lembrou que o Cazaquistão, um país no qual convivem mais de 140 povos de praticamente todas as confissões, soube evitar como poucos o fundamentalismo religioso.

“Desde a declaração de nossa soberania (1991) instamos todo o mundo à paz. E como primeira prova de nossa vontade, rejeitamos então a posse de armas nucleares”, herdadas pelo país da União Soviética, explicou Mayamerov.

Tokaev também ressaltou o aspecto político para explicar a convivência em seu país e destacou que para as pessoas não aderirem ao radicalismo “é preciso elevar seu nível de vida econômico, fomentar a educação desde a infância, educar com tolerância, explicar aos jovens que o futuro está na razão humana, nas tecnologias”.

“E, certamente, é preciso colocar uma barreira para todos aqueles que predicam o radicalismo”, acrescentou.

Os conflitos no mundo todo “afetam cada vez mais e mais lugares, e milhões de pessoas sofrem. E não fazem isso por suas posturas políticas, mas por guardar fidelidade à herança de seus antepassados”, disse por sua vez Roman Bogdasarov, chefe da Secretaria do Conselho inter-religioso da Rússia.

O representante da Igreja Ortodoxa Russa lamentou que “alguns líderes políticos desonestos se empenhem em provocar enfrentamentos”, e disse que os líderes de milhões de fiéis em todo o planeta não podem seguir os extremistas, sejam estes dirigentes de Estados ou terroristas.

“Graças a Deus que este encontro pode acontecer hoje aqui, em um momento muito difícil para o mundo, quando há tantas perseguições por motivos religiosos”, afirmou por sua parte Tomasz Peta, arcebispo de Astana e presidente da Conferência de Bispos Católicos do Cazaquistão.

A reunião da Secretaria do Congresso concluiu com uma declaração na qual os presentes ressaltaram que “os atos terroristas não devem ser associados nem de nenhuma maneira justificados por nenhuma religião”, disse Ashikbaev.

“Ninguém pode perpetrar atos de violência em nome de Deus. É uma perversão, uma tergiversação da religião. É algo que vem do diabo”, afirmou o líder dos católicos cazaques.

O Congresso, criado em 2003 pelo presidente cazaque, Nursultan Nazarbev, em outro momento histórico de muitos conflitos no mundo todo, em plena discussão internacional sobre a conveniência de uma guerra no Iraque, completou uma década como um dos encontros internacionais mais importantes de tantos que a antiga república soviética organiza.

Sua quinta edição, da mesma forma que o encontro de hoje, irá acontecer no Palácio de Paz e Reconciliação, edifício construído em Astana pelo famoso arquiteto Norman Foster especialmente para receber o fórum.

Com uma população de pouco mais de 16 milhões de habitantes, o Cazaquistão é o nono maior país do mundo por extensão, abriga importantes reservas de hidrocarbonetos e é o primeiro produtor mundial de urânio.EFE

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