Renúncia de ministros abala governo de premiê do Japão

  • Por Agencia EFE
  • 20/10/2014 15h38

Andrés Sánchez Braun.

Tóquio, 20 out (EFE).- A renúncia apresentada nesta segunda-feira pelas ministras da Economia e da Justiça do Japão representa o golpe mais duro até o momento para o governo do primeiro-ministro Shinzo Abe e para sua meta de incrementar o papel da mulher no Japão.

As agora ex-responsáveis de Justiça, Midori Matsushima, e de Economia, Comércio e Indústria, Yuko Obuchi, apresentaram suas cartas de renúncia com apenas algumas horas de diferença, pressionadas pela oposição por terem supostamente violado a lei eleitoral japonesa.

A primeira delas distribuiu “uchiwa” (leques japoneses) com sua imagem, seu nome e seu cargo para pessoas que compareceram a diferentes festejos realizados no distrito de Tóquio, do qual é parlamentar.

A distribuição de bens de certo valor – dos quais os leques seriam parte – a eleitores da própria circunscrição eleitoral é proibido por lei no Japão.

Por outro lado, dois grupos de apoio a Yuko Obuchi aparentemente financiaram visitas a Tóquio de eleitores de sua demarcação eleitoral na Prefeitura de Gunma, no centro do Japão, o que em 2010 e 2011 pôde representar um custo de mais de 26 milhões de ienes (cerca de 190 mil euros).

A imprensa local também atribuiu a Yuko o mal uso de recursos públicos no valor de uns 3,6 milhões de ienes (cerca de 26,3 mil euros) para a compra de produtos e a contratação de serviços de empresas de familiares.

“Quero começar do zero na política e recuperar a confiança de todos os cidadãos. Peço desculpas a todos eles. Vou analisar a fundo o suposto uso destes fundos”, disse a ex-titular de Economia em entrevista coletiva após apresentar sua renúncia.

Midori Matsushima, por sua vez, se desculpou por prejudicar o atual governo e defendeu que os leques que distribuiu são produtos “descartáveis” e, na realidade, não representam o descumprimento da legislação.

As duas anunciaram que pretendem conservar suas cadeiras no parlamento enquanto suas situações são investigadas.

Vários analistas locais enfatizaram a superficialidade dos supostos crimes em comparação com os abusos de administrações anteriores no Japão, mas, ao mesmo tempo, destacaram o descaramento com o qual, aparentemente, foram cometidas tais irregularidades.

Em qualquer caso, a renúncia das duas representa o golpe mais duro recebido até agora pelo governo de Shinzo Abe desde que chegou ao poder em 2012.

A renúncia de Obuchi foi a que mais chamou atenção. A ex-ministra da economia é a filha mais nova do ex-primeiro-ministro Keizo Obuchi e que, aos seus 40 anos, tinha se transformado na principal nomeação do gabinete, ao obter um cargo do qual deveria conseguir a reabertura das usinas nucleares no país após o acidente de Fukushima, em 2011.

Além de ter se transformado na pessoa mais jovem a conseguir um cargo de ministro no Japão desde o final da Segunda Guerra Mundial, Obuchi era considerada pela maioria dos especialistas a mulher com maiores chances de se transformar na primeira chefe de governo do Japão no futuro.

Sua nomeação e o de Midori Matsushima, de 58 anos, foram anunciadas em 3 de setembro junto com as de outras três ministras, o que deixou em cinco o número de pastas sob o comando de mulheres, um número que não se via no Japão há mais de dez anos.

A decisão, que pretendia revitalizar a atual administração após uma polêmica reinterpretação da Constituição pacifista do país e do criticado aumento do imposto sobre o consumo, respondia ao plano de Abe de aumentar a proporção de mulheres com cargos de responsabilidade para até 30% para o ano 2020.

O primeiro-ministro disse que se sente pessoalmente “responsável pelas nomeações” das duas ministras e designou hoje mesmo seus substitutos.

Para ocupar a pasta de Economia optou por Yoichi Miyazawa, de 64 anos, sobrinho do ex-primeiro-ministro Kiichi Miyazawa (que governou entre 1991 e 1993) e que já foi vice-ministro no Escritório do Gabinete.

Para o Ministério da Justiça escolheu Yoko Kamikawa, de 61 anos, que já exerceu como ministra de Estado de Abe, responsável pela minguante taxa de natalidade no Japão durante seu primeiro mandato como chefe de governo entre 2006 e 2007.

Além disso, as demissões de hoje chegam num momento no qual outras duas de suas últimas nomeações femininas encaram duras críticas.

Trata-se de Sanae Takaichi e Eriko Yamatani, titulares de Interior e ministra encarregada de resolver o sequestro de cidadãos japoneses pela Coreia do Norte, respectivamente, censuradas publicamente depois que apareceram em fotos com o líder de um grupo racista de extrema-direita. EFE

asb/rpr

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