Rússia pede que Kiev e Ocidente reconheçam eleições separatistas na Ucrânia

  • Por Agencia EFE
  • 31/10/2014 15h38

Moscou, 31 out (EFE).- A Rússia pediu nesta sexta-feira que Kiev e o Ocidente reconheçam as eleições separatistas do domingo no leste da Ucrânia, alegando que os rebeldes precisam de líderes democraticamente eleitos para futuras negociações de paz.

“Essa gente (os insurgentes), que ganhou a confiança da população, quer realizar eleições para receber um mandato democrático e assim representar seu povo nas negociações com Kiev. Que mau há nisso?”, questionou Vladimir Chizhov, embaixador russo perante a União Europeia.

O Kremlin antecipou que reconhecerá os resultados do pleito nas áreas das regiões de Donetsk e Lugansk controladas pelas milícias rebeldes, que boicotaram as eleições legislativas ucranianas do domingo passado.

“Está claro que as eleições não transcorrerão em estrita consonância com a legislação ucraniana. E daí? O importante é o resultado”, acrescentou Chizhov em entrevista à televisão russa.

Essa não é a opinião de Kiev, que ofereceu aos separatistas a opção de escolher seus interlocutores perante o governo central em eleições locais no próximo dia 7 de dezembro, segundo a lei de autogoverno que lhes concede três anos de autonomia.

Por sua parte, União Europeia, Estados Unidos e Otan consideram que estas eleições ameaçam a regulação do conflito, já que são mais um passo na cisão das áreas rebeldes do resto do país.

“Essa postura é ilógica. O sentido dos acordos selados em Minsk (para deter a guerra) é contribuir à redução da tensão e ajudar a conseguir uma regulação política do conflito”, contestou Chizhov.

“O caminho da regulação política passa pelas negociações. Entre quem? Entre os representantes das partes em conflito, que devem, por lógica, receber faculdades determinadas. Os insurgentes precisam de pessoas investidas com poderes e com faculdades”, insistiu.

O diplomata russo lembrou que, no mesmo sentido, “a Rússia reconheceu os resultados das eleições” legislativas de 26 de outubro na Ucrânia, embora “a campanha tenha deixado muito a desejar”.

O presidente russo, Vladimir Putin, abordou hoje as eleições separatistas durante sua reunião semanal com o Conselho de Segurança do Kremlin e nas conversas por telefone que teve com o presidente ucraniano, Petro Poroshenko; a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, François Hollande.

“A Rússia advoga por um diálogo entre o governo ucraniano e os representantes das regiões de Donetsk e Lugansk, o que contribuiria sem dúvida alguma à estabilização da situação”, informou o Kremlin em comunicado.

Esta será a segunda votação organizada pelos separatistas desde que se sublevaram contra Kiev em abril deste ano, já que em meados de maio passado realizaram polêmicos referendos nos quais a maioria dos participantes apoiou a independência.

No entanto, agora os rebeldes controlam apenas um terço de Donetsk e Lugansk, embora seus redutos incluam as capitais das regiões e as cidades mais povoadas, com a exceção de Mariupol (porto no mar de Azov), sede do governo provisório leal a Kiev.

Nas áreas reconquistadas pelo exército e pela guarda nacional vive mais de 40% da população dessas duas regiões pró-russas e, de fato, nas legislativas participou cerca de 30% do eleitorado em ambos casos.

Em princípio, está descartado que os moradores das áreas reconquistadas possam participar do pleito separatista, embora ambos lados ainda não tenham estabelecido uma clara linha de separação que concordaram em 19 de setembro no Memorando de Paz de Minsk.

Por tudo isso, se desconhece o censo real de eleitores nas áreas rebeldes com vistas às eleições do domingo, o que dificulta sua legitimidade, embora vários partidos políticos russos tenham enviado observadores à área para apoiar sua causa.

Enquanto isso, novas colunas de caminhões com ajuda humanitária procedentes da Rússia cruzaram hoje a fronteira com destino às áreas rebeldes através dos setores controlados pelas milícias.

Cerca de 50 caminhões descarregaram alimentos e material de construção em Donetsk, além de uma carga para o departamento local de Educação, que quer iniciar o mais rápido possível o curso acadêmico, apesar do frágil cessar-fogo que rege há dois meses.

Outras 500 toneladas de carga humanitária chegaram a Lugansk, a região mais afetada pela falta de provisões desde o final de junho. EFE

io/rsd

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