Parcelar salários de servidores do RS “é taxativamente ilegal”, afirma conselheiro da OAB

  • Por Jovem Pan
  • 02/08/2015 13h49
***FOTO EMBARGADA PARA O RS E SC*** PORTO ALEGRE, RS, 31.07.2015: PROTESTO-RS - O contracheque dos servidores estaduais confirmou o parcelamento dos salários do Poder Executivo. Por esse motivo, os servidores realizam protesto com caminha por Porto Alegre nesta sexta-feira. (Foto: Mateus Bruxel/Agência RBS/Folhapress) Ag. RBS/Folhapress Servidores públicos

Servidores públicos do Rio Grande do Sul farão paralisações nesta segunda-feira (03) contra o parcelamento do pagamento dos salários referentes ao mês de julho. Os salários serão divididos em três meses, nos dias 31 de julho, 13 e 25 de agosto. Em entrevista à repórter Izilda Alves, o conselheiro da OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil), Eli Alves da Silva afirma que a decisão não cumpre a lei e “demonstra uma falta de planejamento e previsão a respeito do compromisso e obrigação que o Estado tem com seus servidores”. Segundo ele, “essa medida é taxativamente ilegal”.

O presidente da Associação de Cabos e Soldados da Brigada Militar do Rio Grande do Sul, sargento Leonel Lucas, ressalta o descumprimento da lei, além de uma ordem judicial que foi impetrada em maio deste ano, quando o governador do Estado Ivo Sartori (PMDB) ameaçou o mesmo parcelamento.

“Ele preferiu parcelar salários a parcelar contas [do governo]. Ele disse que não pode parcelar dívida para a União”, diz. Leonel Lucas ainda lembra as contas dos funcionários a serem pagas e questionou esta ausência: “é uma tragédia. Temos aluguel para pagar, água, luz, alimentação. Se não tem salário, como vai fazer isso?”.

A presidente do Sindicato dos Professores do Rio Grande do Sul, Elenir Aguiar, destaca a dificuldade de uma professora que, ao ir comprar fraldas, percebeu que seu saldo estava negativo. “Ela foi descobrir que o Banrisul, a partir do dia 28, começou a lançar todos os empréstimos, indiferente que o governo estaria atrasando nosso salário”.  Ela ressalta a “calamidade pública e a falta de condições emocionais dos servidores de voltarem ao trabalho”, uma vez que falta dinheiro para medicamentos e até mesmo para a alimentação.

*Ouça a entrevista com Elenir Aguiar

“Dizem que salário é alimento e alimento não se pode parcelar. Inclusive já está no Supremo [Tribunal Federal], o Estado recorreu. [Ministro Ricardo] Lewandowski disse isso, que salário é isso, é alimento não se parcela e não se atrasa. O julgamento, estamos achando que vai ser até dia 10 de agosto e vamos ver. Se realmente se confirmar isso, a prisão [do governador do Estado] será mais que necessária. Até mesmo o impeachment dele. Se o Pleno confirmar a decisão do ministro Lewandowski, nós podemos pedir o impeachment dele”, afirmou o sargento Leonel.

O parcelamento foi anunciado nesta sexta-feira (31) pelo secretário da Fazenda do Estado, Giovani Feltes, que informou que a decisão foi necessária por não terem “alternativas para superar o déficit crescente dos últimos meses com a arrecadação aquém das projeções”.

O anúncio revoltou os funcionários públicos, que cobraram a presença do governador. “Ele não teve coragem para falar na coletiva de imprensa. O Estado do RS está com navio à deriva, sem comando”, diz Elenir. “Governo é covarde, porque para anunciar o parcelamento ele mandou o secretário da Fazenda anunciar isso e ele foi embora para Curitiba por assuntos particulares”, exclama o sargento Leonel.

José Ivo Sartori, governador do Estado, divulgou pronunciamento anunciando o parcelamento e admitindo saber da dificuldade das famílias e considerando a crise financeira como a causa da decisão. “Juntos vamos vencer esta crise”, afirma no vídeo. Confira abaixo o pronunciamento do governador:

O que pode ser feito

Para o conselheiro da OAB-SP, entre os recursos que podem ser tomados pelos funcionários públicos está o recurso de greve. “A primeira e imediata instância. Em função do não pagamento do salário, esse motivo é extremamente plausível para que se possa ser deflagrada uma greve”, diz.

Segundo ele, a partir disso passa a ter todas essas providências dentro do limite da lei em relação à atuação da categoria através da greve, que é a paralisação dos serviços prestados. “Em se declarando a greve, haverá recursos por parte do próprio Estado para exigir que se tenha a prestação do serviço em um determinado percentual para a população não ser prejudicada na totalidade. Mas por outro lado, existe também o recurso judicial para exigir que o empregador faça o cumprimento da sua obrigação”, explica.

*Ouça a entrevista com Eli Alves da Silva

O sargento Leonel relata que já a Associação já entrou com um pedido no Tribunal de Justiça do RS pedindo a prisão do governador Ivo Sartori, com base no Art. 85 da Constituição Federal, que trata da improbidade administrativa.

Como será a paralisação                      

“Com o atraso de salários e pagamento escalonado que o governo propôs, estaremos cruzando os braços, não só os professores, porque no Estado construímos um movimento unificado dos servidores públicos. Segunda-feira não teremos aula, não terá segurança na rua, não teremos atendimento médico. Quarenta entidades cruzarão os braços na segunda”, conta Elenir Aguiar.

O sargento Leonel explica que a Brigada Militar do Estado fará um dia de aquartelamento. “Policiais e bombeiros estão muito revoltados. Não têm o que dar para as suas famílias. A partir de amanhã vamos fazer um dia de aquartelamento. Esposas e filhos, todos convocados. Não vamos deixar viaturas e pessoas saírem dos quartéis, a não ser que seja uma ocorrência de crime contra a vida”, explica.

Na área da educação, até dia 18 deste mês, a área da educação no Estado contará com períodos reduzidos de aulas para os alunos. “Vamos falar com a sociedade gaúcha para dizer que a opção do governo de aumentar impostos, privatizar empresas públicas não é a saída. É a saída que vai diminuir ainda mais o nosso Estado. Vamos fazer essa disputa radicalizada com o governo”.

“Nós vamos fazer nossa parte e esperamos que a população do RS compreenda. Infelizmente a gente sabe que é um caos já feito no RS, mas as nossas famílias não podem ficar sem alimento”, finaliza o sargento Leonel.

*Ouça a entrevista com sargento Leonel Lucas

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