A pedido de Mantega, Carta Capital recebeu empréstimo de R$ 3,5 milhões de Odebrecht

  • Por Jovem Pan
  • 13/12/2016 11h53
SP - ODEBRECHT/DEMISSÕES - ECONOMIA - Fachada do prédio da Odebrecht, na região oeste de São Paulo, na manhã desta segunda-feira (12). Enquanto pipocam vazamentos do conteúdo de delações de 77 executivos da Odebrecht sobre esquemas de corrupção que atingem a elite da classe política brasileira, os empregados da empresa convivem com outra dura realidade: o desemprego. Na semana passada, diversos executivos foram informados que o número de funcionários da companhia já está abaixo dos 80 mil. Isso significa que mais de 100 mil foram demitidos ou pediram demissão nos últimos três anos, quando o quadro de funcionários chegou ao seu auge. Se levado em conta o período da Lava Jato, no fim de 2014, a companhia foi reduzida à metade em número de funcionários. 12/12/2016 - Foto: MARIVALDO OLIVEIRA/CÓDIGO19/ESTADÃO CONTEÚDO MARIVALDO OLIVEIRA/CÓDIGO19/ESTADÃO CONTEÚDO Fachada da sede da Odebrecht em São Paulo

De acordo com um dos relatórios da delação premiada de Paulo Cesena, ex-diretor financeiro da construtora Odebrecht, a empresa realizou dois empréstimos no valor de R$ 3,5 milhões entre 2007 e 2009 à Editora Confiança, responsável pela revista Carta Capital. A operação foi feita pelo Setor de Operações Estruturadas a pedido do ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega.

Cesena afirma que recebeu a ordem em 2007, através de Marcelo Odebrecht, presidente da construtora na época e que atualmente se encontra preso pela Polícia Federal em Curitiba. Em seu relato, ele afirma que “a companhia faria um aporte de recursos para apoiar financeiramente a Carta Capital, a qual passava por dificuldades financeiras”. O relator ainda conta que “esse apoio era um pedido de Guido Mantega, então ministro da Fazenda”.

Para Cesena, estava claro que “esse aporte financeiro tinha por finalidade atender a uma solicitação do governo federal/Partido dos Trabalhadores, pois a revista era editada por pessoas ligadas ao partido”.

Outro pedido feito por Marcelo foi para que ele ajudasse a publicação a se organizar financeiramente com um plano de negócios sustentável. O presidente da empresa teria guiado Cesena a procurar o jornalista e diretor de redação, Mino Carta, e o economista e consultor editorial, Luiz Gonzaga Belluzzo, para que o acordo fosse alinhado.

Segundo Cesena, 85% do empréstimo já foi quitado pela editora através de eventos patrocinados pela Odebrecht entre 2010 e 2012.

As provas apresentadas pelo delator foram e-mails, planilhas e notas fiscais detalhando a alocação de recursos e patrocínios de eventos da revista. 

Do outro lado, a diretora administrativa, Manuela Carta, argumenta que o depoimento de Cesena é um mal entendido, já que não ocorreu empréstimo, mas sim um acordo publicitário que prevê adiantamento de verbas. Segundo ela, a dívida inteira já foi quitada: “Temos tudo contabilizado”, afirma ela ao citar o apoio da holding aos eventos “Diálogos Capitais”, “Fórum Brasil” e um encontro com o economista norte-americano Paul Krugman. 

O depoimento Luiz Belluzo vai de encontro com o de Manuela. Ele afirma que procurou Marcelo Odebrecht para firmar um acordo financeiro.

“Estávamos numa situação difícil e fizemos um mútuo que carregamos no nosso balanço por muito tempo, porque a revista estava precisando de financiamento. Está tudo no balanço da empresa, não tem nada escondido”, diz ele, completando que o pagamento seria feito por publicidade dentro da publicação mensal. 

Tanto Manuela quanto Belluzzo negam a participação de Guido Mantega na negociação. 

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