Policiais envolvidos em morte de menino ficam à disposição na Corregedoria

  • Por Jovem Pan
  • 13/06/2016 10h12
Reprodução/TV Globo Câmera de segurança

Seis policiais que atuaram no caso da morte do garoto Ítalo, de 10 anos, estão na sede da Corregedoria da Polícia Militar na região da Luz, centro de São Paulo, em “expediente administrativo” por tempo indeterminado. A justificativa é de ficarem à disposição dos corregedores que investigam o caso.

Os oficiais terão de cumprir o expediente em tempo indeterminado, das 9h às 18h, de segunda a sexta-feira e não poderão se comunicar com os familiares, de acordo com o advogado. O defensor dos policiais, Marcos Manteiga, classifica o chamamento como ilegal, um “abuso de poder”, “prisão velada” e “em tese um crime de tortura”, “porque não tem uma ordem legal de prisão”.

Ele alega ainda que a medida prejudica a oitiva marcada para as 11h desta segunda-feira (13) na Delegacia Estadual de Homicídios e Proteção a Pessoa (DHPP), que investiga a morte do menino que praticava um assalto. Um representante da comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Manoel Martins, acompanha o advogado dos oficiais da PM. A Secretaria de Segurança Pública (SSP) foi contactada, mas ainda não se posicionou sobre a retenção dos PMs.

“A Corregedoria os chamou para ficar aqui não presos, mas à disposição da Corregedoria, numa saleta 4×4 m, ao bel-prazer da Corregedoria, com alegação de expediente administrativo”, explica Manteiga em entrevista exclusiva à repórter Jovem Pan Carolina Ercolin.

O defensor diz que os policiais ficarão na Corregedoria “sem ter o que fazer, olhando para a televisão o dia inteiro, tomando água, café”. “Eles poderiam estar afastados do serviço de rua, trabalhando na companhia onde eles estão lotados, em prol da sociedade”, defende. A justificativa para reter os PMs, segundo o advogado, é ficarem à disposição para serem inqueridos pela Corregedoria a qualquer momento.

Manteiga também critica o comando da PM, que, em sua visão, “desmotiva os policiais a trabalharem”. “O comando da Polícia Militar do Estado de São Paulo dá ordem ao comando da Corregedoria para desestimular os policiais a trabalharem. E quando não, os policiais dentro da corregedoria são questionados de que não vale a pena ficar combatendo o crime da rua, não vale a pena ficar defendendo a sociedade, desmotivando os policiais a trabalharem e defender nós, sociedade”, diz o defensor dos investigados.

“PM não alterou local do crime”

O defensor garantiu também que seus clientes não alteraram o local da morte de Ítalo. Segundo Manteiga, os policiais “acreditavam haver um adulto dentro do carro”. “Quando o carro parou, as outras três portas ficaram travadas, apenas a porta do motorista abriu”, narra. “O próprio garoto que saiu em vida alterou toda a cena do crime”, pisoteando o falecido, alega. Segundo o advogado, a chegada dos médicos para socorrer o outro menino que sobreviveu à ocorrência “também mexeu com a cena do crime”. “Não foram os policiais”, garante.

Manteiga também nega mudança de versão dos policiais após imagens divulgadas na TV. “A tese não foi alterada. Nunca tinha sido apresentada uma tese antes”, afirmou. “Não há nova versão do disparo. O que houve foi um esclarecimento”, disse. “Quando se vê as imagens da mídia, não dá para perceber quando foi o momento do tiro. Isso foi esclarecido, não foi inovado”, garante.

Advogado Marcos Manteiga e representante da comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Manoel Martins Gonzales (Carolina Ercolin)

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