“Quem acha que é o fim do Lula, vai quebrar a cara”, diz ex-presidente em coletiva

  • Por Jovem Pan
  • 13/07/2017 12h30 - Atualizado em 13/07/2017 13h06
NELSON ANTOINE/ESTADÃO CONTEÚDO Esta é a primeira vez que um ex-presidente do Brasil é condenado por corrupção.

No dia seguinte após ser condenado a nove anos e meio de prisão pelo juiz federal Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal em Curitiba (PR), o ex-presidente Lula e sua defesa convocaram coletiva de imprensa no Diretório Nacional do PT, na região central de São Paulo. Estão presentes o advogado do petista, Cristiano Zanin Martins, Rui Falcão, Lindbergh Farias, Alexandre Padilha, José Guimarães, Jandira Feghali (PCdoB), Gleisi Hoffmann, o escritor Raduan Nassar entre outros nomes do PT, aliados, militantes e movimentos sociais.

Do lado de fora, um grupo pró-PT realizou ato em apoio ao ex-presidente entoando dizeres e placas com os dizeres “Eleição sem Lula é fraude”, “Não à condenação de Lula”, “Em defesa do Lula, do PT e do movimento sindical e popular” e bandeiras do partido.

Recebido com gritos de “Lula, guerreiro do povo brasileiro”, o ex-presidente começou sua fala com um sorriso no rosto e evitou criticar a pessoa do juiz Sérgio Moro, mas não poupou sua fala sobre a sentença desta quinta. Hoje, Lula aproveitou para se postular, de maneira oficial, como candidato do PT à eleição de 2018. “Me espere. Quem acha que é o fim do Lula, vai quebrar a cara. Porque somente na política, quem tem direito de decretar meu fim é o povo brasileiro”, disse.

Sem ter reivindicado antes de maneira formal, Lula deixou clara agora sua intenção de ser o nome do partido para a Presidência em 2018. “A partir de agora vou reivindicar do PT o direito de me colocar como postulante”, afirmou.

Declarando aberta e diretamente à presidente do partido, Gleisi Hoffmann, que estava sentada ao seu lado, o ex-presidente admitiu que tem um problema jurídico nas costas, mas informou que brigará, primeiro na Justiça, depois internamente no PT e, posteriormente para convencer a sociedade, de que ele é o nome para a Presidência.

“Queria dizer, senhores da ‘casa grande’: permitam que alguém da senzala faça o que vocês não têm competência de fazer dentro do País. Permita que alguém cuide desse povo, porque esse povo não precisa ser governado pela elite, mas por alguém que saiba como é a vida dura que leva esse pobre do País”, clamou Lula. “Permita que a gente coloque o pobre no orçamento outra vez”, completou.

Tom de brincadeira

Em tom irônico, o ex-presidente deu início à coletiva dizendo que o juiz federal Sérgio Moro é otimista ao pensar que daqui 19 anos Lula poderá exercer um cargo público. “Isso significa que eu vou viver e vocês vão me suportar muito”, disse em tom de brincadeira e arrancando aplausos e risos dos presentes.

Lula afirmou ainda que não falou com a imprensa nesta quarta-feira por estar atento a um assunto mais importante: o clássico entre Palmeiras e Corinthians.

“Condenação pronta”

Lula destacou logo no início de sua coletiva um artigo que escreveu no jornal Folha de S. Paulo, em 18 de outubro do ano passado, intitulado de “Por que querem me condenar”. Neste, ele diz que já sabia o que ia acontecer a ele.

“Meus acusadores sabem que não roubei, não fui corrompido nem tentei obstruir a Justiça, mas não podem admitir. Não podem recuar depois do massacre que promoveram na mídia. Tornaram-se prisioneiros das mentiras que criaram, na maioria das vezes a partir de reportagens facciosas e mal apuradas. Estão condenados a condenar e devem avaliar que, se não me prenderem, serão eles os desmoralizados perante a opinião pública”, diz trecho do artigo citado por Lula.

O petista relembrou que o texto é de outubro e que, desde então, sua sentença estava pronta. “Eu acreditava que esse processo ia terminar do jeito que terminou. Porque era visível que o que menos importava para as pessoas era o que eu falava. Eles já estavam com o processo pronto, com a concepção da condenação pronta”, disse. “Eu sinto que há uma tentativa de me tirar do jogo político”, completou.

Crença nas instituições e crítica à força-tarefa da Lava Jato

“Sou um homem que acredito nas instituições. Quero uma Polícia Federal forte, um Ministério forte, um Ministério Público Federal forte. Eles são o garante da democracia no País. Se pegarem os discursos que eu fazia em posse do MP, a instituição, por ser forte, as pessoas que a compõem têm que ter mais responsabilidade. Quando falo da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, falo dos procuradores que fazem parte da força-tarefa da Lava Jato, da Polícia Federal que faz parte da Lava Jato”, criticou Lula.

Prestar contas à história

Para Lula, o juiz Sérgio Moro não deve prestar contas a ele, mas sim à história. “Assim como eu devo prestar contas à história. A história vai dizer quem está certo e quem está errado. É por crer no Estado Democrático de Direito que a Justiça não pode mentir. A única prova que existe nesse processo de não sei quantas mil páginas é a prova da minha inocência”.

O ex-presidente ainda fez um apelo para que quem tiver provas contra ele, que envie à Justiça: “seria mais feliz se eu fosse condenado com base em uma prova. O que me deixa indignado, mas sem perder a ternura, é você perceber que está sendo vítima de um grupo de pessoas que contaram a primeira mentira e vão passar a vida inteira mentindo”.

“Sem querer desafiar”, mas já desafiando, Lula reiterou que quer provas contra si e aproveitou para criticar a prova citada na sentença em que mostra um papel sobre o tríplex no Guarujá.

Antes de Lula

Antes de iniciar o discurso, a senadora Gleisi Hoffmann, atual presidente nacional do partido, fez um breve discurso e declarou que “eleição sem o presidente Lula é uma fraude”. O mesmo foi dito pelo presidente da CUT, presente no evento.

Ao lado do petista na mesa estava o advogado de defesa, que aproveitou para reiterar a indignação “com a prolação de uma sentença condenatória não só sem prova de culpa, mas desprezando a prova da inocência”. Tanto Lula quanto seu advogado, Cristiano Zanin, criticaram a ausência de mais espaço para a defesa na sentença de Moro: “tivemos cinco parágrafos de 962 que compõem a sentença. A sentença é absolutamente ilegítima porque despreza as provas apresentadas, a lei. Afastou a presunção de inocência sem que houvesse elemento jurídico”.

A defesa de Lula declarou ainda que a decisão de Moro é na primeira instância e que eles têm a certeza de que esta será reformada.

Condenação

O juiz federal Sérgio Moro condenou o ex-presidente Lula, nesta quarta-feira (12), a nove anos e meio de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá. Lula é acusado pela força-tarefa da Operação Lava Jato de recebimento de propina da empreiteira OAS, entre as vantagens estaria o apartamento no litoral paulista.

Esta é a primeira vez que um ex-presidente da República do Brasil é condenado por corrupção.

Segundo a sentença de Moro, o ex-presidente poderá apresentar sua apelação em liberdade para evitar “traumas” com uma eventual prisão cautelar. “Considerando que a prisão cautelar de um ex-Presidente da República não deixa de envolver certos traumas, a prudência recomenda que se aguarde o julgamento pela Corte de Apelação antes de se extrair as consequências próprias da condenação.  Assim, poderá o ex-Presidente Luiz apresentar a sua apelação em liberdade”, traz a sentença.

O juiz federal ainda demonstrou que não se satisfaz condenando um ex-presidente. “Registre-se que a presente condenação não traz a este julgador qualquer satisfação pessoal, pelo contrário. É de todo lamentável que um ex-Presidente da República seja condenado criminalmente, mas a causa disso são os crimes por ele praticados e a culpa não é da regular aplicação da lei. Prevalece, enfim, o ditado “não importa o quão alto você esteja, a lei ainda está acima de você” (uma adaptação livre de “be you never so high the law is above you”)”, diz.

A denúncia

O Ministério Público Federal ofereceu a denúncia no dia 14 de setembro do ano passado. Na época, o procurador da República Deltan Dallagnol afirmou que a investigação identificou Lula como o “comandante máximo do esquema investigado na Operação Lava Jato”. Na ocasião, Dallagnol classificou o esquema como “propinocracia”.

Segundo a denúncia, o petista recebeu R$ 3,7 milhões em vantagens indevidas pagas pela OAS. A maior parcela, de R$ 1,1 milhão, corresponde ao valor aproximado do tríplex, que teve suas obras concluídas pela empreiteira.

Ainda de acordo com os procuradores, a empreiteira gastou R$ 926 mil para reformar o apartamento e outros R$ 350 mil para a instalação de móveis planejados, seguindo um projeto aprovado pela família Lula.

A acusação inclui R$ 1,3 milhão que a empreiteira desembolsou para pagar uma outra empresa contratada para armazenar bens que o ex-presidente levou para São Paulo após deixar a Presidência.

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