Funaro apontará Temer como beneficiário de desvios da Caixa e conta no exterior, diz jornal

  • Por Jovem Pan
  • 30/08/2017 09h25 - Atualizado em 30/08/2017 10h31
Montagem/Agência Brasil e EFE Doleiro, corretor e delator Lúcio Funaro e presidente Michel Temer; peemedebista sempre negou relação

Lúcio Funaro apontará o presidente Michel Temer como beneficiário de desvios da Caixa Econômica Federal e de dinheiro escondido no exterior. A informação divulgada pelo Painel da Folha de S. Paulo é de pessoas próximas ao doleiro, que fechou recentemente delação premiada com a Lava Jato.

Os dados fornecidos por Funaro devem ser usados pelo procurador-geral Rodrigo Janot para embasar nova denúncia criminal contra Temer.

Além disso, devem constar nas acusações fornecidas pelo réu confesso todos os aliados peemedebistas do presidente da República (como Eliseu Padilha, Moreira Franco, Geddel Vieira Lima, Henrique Eduardo Alves e Eduardo Cunha). Oito ministros de Temer já são investigados no Supremo Tribunal Federal.

Michel Temer sempre negou qualquer relação com o operador do PMDB Lúcio Funaro.

Funaro

Ao assinar a delação premiada, Funaro prometeu explicar aos investigadores como o PMDB da Câmara atuava em órgãos públicos sob o controle de seus integrantes. O corretor foi alvo de duas operações, a Sépsis e a Cui Bono?. A primeira apura sua atuação no Fundo de Investimento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, o Fi-FGTS, e a segunda mira sua influência na vice-presidência de pessoas jurídica das Caixa durante a gestão de Geddel Vieira Lima.

Estão na mira dessas duas investigações grandes grupos econômicos como a holding J&F dos irmãos Joesley e Wesley Batista, e as empresas da família Constantino, dona da Gol Linhas Aéreas.

Só do Grupo J&F, segundo planilha entregue por Joesley Batista em sua delação, Funaro recebeu cerca de R$ 170 milhões nos últimos 12 anos. À Lava Jato, o corretor irá explicar quais políticos participaram dos esquemas que resultaram nesses pagamentos e qual a participação do presidente Michel Temer.

Joesley e Cunha

Outro tema a ser abordado será a veracidade das afirmações de Joesley a Temer em conversa gravada pelo empresário no Palácio do Jaburu. Batista disse que continuou efetuando pagamentos ao operador mesmo após sua prisão para evitar que ele partisse para uma delação – um deles para sua irmã Roberta foi interceptado em ação controlada da PF.

“O Lúcio Funaro é o operador financeiro do Eduardo do esquema PMDB da Câmara. O esquema PMDB da Câmara é composto pelo presidente Michel Temer, Eduardo, enfim, e alguns outros membros”, afirmou Joesley em seu acordo.

O empresário contou aos procuradores que conheceu Funaro em 2011, atendendo a um pedido do empresário Paulo Sergio Formigoni de Oliveira. O operador financeiro, disse Joesley, teria informado que atuava em conjunto com o ex-deputado Eduardo Cunha com o “respaldo político” do então vice-presidente, Michel Temer

“Ele Funaro sempre dizia ‘eu falo em nome do Eduardo e Eduardo é da turma do Michel’”, afirmou Joesley.

Agricultura

Joesley também narrou em sua delação pagamentos por negócios relacionados ao Ministério de Agricultura. O primeiro pagamento na Agricultura ocorreu quando houve a liberação para a exportação de despojos animais. De acordo com Joesley, a JBS nem havia pleiteado a medida, mas foi cobrada em R$ 2 milhões por Funaro.

“E teve um que eu pedi que era sobre vermífugos. Isso era muito importante para o Brasil, tanto que depois até mudou a norma nos Estados Unidos. Esse eu paguei R$ 5 milhões. Eu tinha um helicóptero lá e entrou como meio de pagamento”, acrescentou.

Propina ao PMDB e reunião

Lúcio Funaro passou as primeiras semanas de agosto na Superintendência da Polícia Federal em Brasília prestando depoimentos ao MPF. Em uma audiência na 10ª Vara da Justiça Federal, o doleiro disse a jornalistas que tem o que entregar sobre Temer.

Funaro já disse à PF em depoimento que o presidente Michel Temer fez uma “orientação/pedido” para que uma “comissão” de R$ 20 milhões proveniente de duas operações do Fundo de Investimento do FGTS fosse encaminhada para a sua campanha presidencial de 2014 e, também, para a de Gabriel Chalita à Prefeitura de São Paulo, em 2012. As operações no FGTS eram relacionadas às empresas LLX e BRVias e são investigadas na Operação Sépsis, na qual Funaro foi preso, em julho de 2016.

O doleiro afirmou também que ouviu do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) que havia “conhecimento do presidente Michel Temer a respeito da propina sobre o contrato das plataformas entre a Petrobrás Internacional e o Grupo Odebrecht”. Em seu relato, o corretor citou ainda repasses para dois aliados de Temer, o ministro Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência) e o ex-ministro Geddel Vieira Lima (R$ 20 milhões por operações na Caixa).

Funaro ainda confirmou a participação de Temer e Cunha em acertos de propinas sobre contrato da Petrobras com a Odebrecht.

Um dos delatores da Odebrecht, Márcio Faria, afirmou à Procuradoria-Geral da República que o presidente Michel Temer presenciou, em 2010, quando candidato a vice-presidente da República, uma reunião na qual se acertou pagamento de propina de US$ 40 milhões ao PMDB.

O valor era referente a 5% de um contrato da empreiteira com a Petrobras. Segundo Funaro, a confirmação de que o presidente participou do encontro foi repassada por Eduardo Cunha.

Faria disse que a propina ao PMDB foi paga em espécie, no Brasil, e em conta no exterior. Acrescentou que, durante as negociações, o partido concordou em reduzir para 4% sua cota, permitindo que o PT ficasse com 1%. Os recursos ficaram como crédito para uso dos então senadores Delcídio Amaral (MS) e Humberto Costa (PE).

O presidente Michel Temer afirmou, por meio de nota divulgada à época em que se revelaram as delações da Odebrecht, que “jamais tratou de valores” com Márcio Faria.

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