Lula diz sentir “pena” de Palocci e pede imparcialidade a Sérgio Moro

  • Por Fernando Ciupka e Diogo Patroni/Jovem Pan
  • 13/09/2017 17h58 - Atualizado em 13/09/2017 21h51
Reprodução Ao final do interrogatório, o petista questionou o magistrado se ele será imparcial neste processo, já que, segundo o ex-presidente, não aconteceu no que ele acabou condenado

O ex-presidente Lula prestou na tarde desta quarta-feira (13) um depoimento de duas horas e dez minutos ao juiz Sérgio Moro, na sede da Justiça Federal, em Curitiba, no âmbito da Operação Lava Jato. O petista afirmou que Palocci mentiu nas declarações concedidas na semana passada e disse sentir “pena” do ex-companheiro de partido, que “tem família” e quer se ver livre da situação em que se encontra.

“Eu vi Palocci mentir aqui essa semana. (…) Muita gente achou que eu ia chegar aqui com muita raiva do Palocci, eu achei que o Palocci tá preso há mais de um ano, o Palocci tem o direito de querer ser livre, tem o direito de ficar com um pouco do dinheiro que ele ganhou fazendo palestra, ele tem família. O que não pode é que, se você não quer assumir a sua responsabilidade pelos fatos ilícitos que você fez, não jogue em cima dos outros”, disse Lula.

“O objetivo é encontrar alguém para me criminalizar. Esse é o objetivo. (…) Eu fiquei muito preocupado com a delação do Palocci. Porque ele podia ter falado ‘eu fiz isso errado’. Ele, espertamente dizia: ‘não é que eu sou santo’, e pau no Lula. Que é um jeito de você conquistar veracidade na sua fala. Eu fiquei com pena disso”, completou o ex-presidente, afirmando que irá enfrentar e contestar todas as ações do Ministério Público Federal.

Lula afirmou ainda que Palocci é simulador, frio e calculista, e que nada que o ex-ministro disse é verdade. “Conheço o Palocci bem. O Palocci, se não fosse ser humano, seria um simulador. Ele é tão esperto que é capaz de simular uma mentira mais verdadeira que a verdade. O Palocci é médico, calculista, é frio”, contou.

Na semana passada, o ex-ministro de Lula, Antonio Palocci, afirmou que o ex-presidente fez um “pacto de sangue” com a empreiteira Odebrecht, que envolvia o pagamento de R$ 300 milhões em vantagens ilegais para manter a empresa como protagonista no governo federal. Lula é réu pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro nos contratos entre a Odebrecht e a Petrobras.

Acusações do MPF

O Ministério Público Federal (MPF) acusa Lula de ter recebido o apartamento anexo ao seu, em São Bernardo do Campo, como benefício indevido da Odebrecht. O petista afirmou que não solicitou a ninguém a compra do imóvel e nem participou do contrato de locação do local, que, segundo ele, era usado para reuniões políticas e pelo seus seguranças.

Foi neste momento que Lula fez um adendo e não poupou críticas ao MPF. “O Ministério Público é muito engraçado(…) Eles inventaram que o Tríplex era meu, porque O Globo disse, e não é. Eles inventaram que o apartamento é meu, como agora inventaram a história do Sítio, e não é. Ou seja, três denúncias por ilação. Eles têm (MPF) de transformar o Lula no Power Point deles”, esbravejou o petista.

O apartamento de Glaucos Costamarques, acusado de ser ‘laranja’ no caso, teria sido comprado quando a ex-mulher do presidente firmou o aluguel do imóvel. De acordo com o ex-presidente, ele pagou a locação do apartamento e “deve ter” os recibos que comprovam isso.

“Para mim foi surpresa, porque o Glaucos nunca reclamou para mim que não estava sendo pago até 2015”, disse o petista.

Instituto Lula

Uma das vantagens indevidas da Odebrecht para o ex-presidente seria um imóvel destinado a ser uma nova sede do Instituto Lula, na Rua Haberbeck Brandão. Em depoimento como testemunha, o pecuarista José Carlos Bumlai declarou que havia sido procurado pela então esposa de Lula, Marisa Letícia, para implementar um espaço institucional para o instituto do petista e, após isso, teria tratado com o advogado Roberto Teixeira e o empreiteiro Marcelo Odebrecht sobre o assunto. Lula negou.

“Todas as pessoas que trabalhavam comigo sabiam que era proibido falar em Instituto Lula ou Memorial, enquanto eu estivesse exercendo o cargo de presidente da República. (…) Se conversaram com a Marisa, ela não me contou. Eu acho difícil terem conversado e ela não ter me contado”, disse Lula.

O juiz Sérgio Moro apresentou então um documento de opção de compra do imóvel na Rua Haberbeck Brandão, que tem como uma das partes o pecuarista Bumlai, representado por Teixeira, que foi encontrado na residência do ex-presidente. Lula disse que Moro deveria perguntar sobre o local para Bumlai e Teixeira e questionou a veracidade de os papéis terem sido encontrados em sua casa.

“Não sei o que encontraram na minha casa. Eles (PF) entraram às 6h da manhã, entraram no escritório, que já faz 20 anos que moro naquele lugar, e 20 anos que não entrou naquele escritório que é um lugar de jogar tranqueira. O fato de ter encontrado isso em um escritório na minha casa, não significa que eu tenha conhecimento, que eu tenha visto. Até porque eu não sou obrigado a acreditar que encontraram na minha casa”, disse o petista, que afirmou ter muitas dúvidas depois do que tem sido feito com ele.

‘Juiz imparcial?’

Ao final do interrogatório, o petista questionou o magistrado se ele será imparcial neste processo, já que, segundo o ex-presidente, não aconteceu no que ele acabou condenado.

“Eu vou chegar em casa amanhã, vou almoçar com oito netos e uma bisneta de seis meses. Eu posso olhar na cara dos meus filhos e dizer que eu vim a Curitiba prestar depoimento a um juiz imparcial?”, questionou Lula. Moro respondeu: “bom, primeiro não cabe o senhor fazer esse tipo de pergunta pra mim, mas de todo modo, sim.”

Foi então que Lula afirmou que não foi o que ocorreu no último julgamento. “Porque não foi o procedimento na outra ação, doutor”, disse o ex-presidente.

“Eu não vou discutir a outra ação com o senhor, senhor ex-presidente. Mas se nós fôssemos discutir aqui, a minha convicção foi de que o senhor é culpado. Não vou discutir aquele processo aqui. O senhor está discutindo no tribunal. Apresente as suas razões no tribunal, certo? Se nós fôssemos discutir aqui, não seria bom para o senhor”, afirmou Moro.

 

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