Quem são os amigos de Temer presos – e o que pesa sobre eles

  • Por Jovem Pan
  • 29/03/2018 14h57 - Atualizado em 29/03/2018 14h59
Reprodução e Estadão Conteúdo Coronel Lima (esq.) e José Yunes, amigos de Temer, foram presos pela Polícia Federal na Operação Skala nesta quinta (29)

Na Operação Skala, que investiga propina no decreto dos portos, a Polícia Federal prendeu nesta quinta (29) dois amigos próximos do presidente Michel Temer.

Veja quem são e o que já se investigou sobre eles:

JOSÉ YUNES

Amigo e ex-assessor de Michel Temer, José Yunes é apontado pela Polícia Federal na operação de hoje como possível intermediário de propina de empresas do setor portuário para Temer.

Yunes também foi deputado federal constituinte pelo PMDB. Em 1988 mesmo, deixou a vida política para tocar seu escritório de advocacia.

Quando Yunes deixou de ser assessor especial do Palácio do Planalto, Romero Jucá disse que a sua retirada ocorreria para evitar qualquer tipo de “pseudo constrangimento” ao presidente Temer.

Estadão Conteúdo

Temer e José Yunes em 2002; amizade existe há mais de 50 anos (Estadão Conteúdo)

Caixa de dinheiro e “mula involuntária”

Em delação, o doleiro Lúcio Funaro disse que era “lógico” que Yunes sabia que havia entregue uma caixa com dinheiro em setembro de 2014, quando Temer era vice-presidente. O dinheiro seria propina da Odebrecht destinada a Temer. Ele foi entregue no escritório de Yunes, no Itaim Bibi.

“Ele (Yunes) tinha certeza que era dinheiro, ele sabia que era dinheiro, tanto que ele perguntou se meu carro estava na garagem, porque ele não queria que eu corresse risco de sair com a caixa para a rua. E até pelo próprio peso da caixa, para um volume de R$ 1 milhão, é uma caixa bem pesada”, afirmou Funaro em declaração feita ao Ministério Público Federal no dia 23 de agosto.

O delator disse que foi pegar R$ 1 milhão a pedido do ex-ministro Geddel Vieira Lima, ex-ministro de Temer, hoje preso na Lava Jato.

Funaro contou que, na ocasião, recebeu um telefonema de Geddel pedindo que retirasse R$ 1 milhão com José Yunes, a ser entregue em Salvador. Geddel lhe teria dito que esse dinheiro era referente a uma doação via caixa 2 da Odebrecht, acertada juntamente com Eliseu Padilha e Michel Temer. Segundo Funaro, Geddel, Yunes e o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB) seriam os operadores de propina do presidente Temer.

Na versão do ex-assessor de Temer, no entanto, ele diz ter sido “mula involuntário” do ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, e que não tinha conhecimento do conteúdo do que estava entregando a Funaro.

Envelope a Padilha

Os assessor e amigo pessoal do presidente relatou em depoimento à Procuradoria-Geral da República, em fevereiro do ano passado, e em entrevistas ter recebido Funaro em seu escritório, em São Paulo, no final de 2014.

No encontro, Funaro, apontado como um dos principais operadores do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), teria entregue um envelope endereçado a Padilha.

A declaração de Yunes corrobora o depoimento do ex-vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht, Cláudio Melo Filho que disse, em delação premiada, que o escritório de Yunes era um dos lugares usados para o depósito de dinheiro destinado às campanhas do PMDB.

Joesley e R$ 50 milhões

O empresário Joesley Batista, da JBS, relatou à Polícia Federal, na Operação Patmos, desdobramento da Lava Jato, que o presidente Michel Temer tentou incluir o advogado José Yunes “para intermediar um acordo com uma empresa em disputa judicial em andamento contra o Grupo J&F”. Segundo o executivo, o negócio renderia cerca de R$ 50 milhões a Yunes.

Empresas de filhos e Assad

A quebra de sigilo das empresas de Adir Assad, apontado como operador de propinas, revela que empresas dos filhos de José Yunes pagaram ao menos R$ 1,2 milhão para firmas consideradas de fachada. As empresas de Marcos e Marcelo Mariz de Oliveira Yunes, todas ligadas a Yuny Incorporadora, aparecem em 113 transações com a SM Terraplanagem e em 28 operações com a Legend Engenheiros.

CORONEL LIMA

João Batista Lima Filho, ex-coronel da Polícia Militar de São Paulo, é amigo de longa data de Michel Temer. O coronel é ligado a Temer desde os anos 1980 e 1990, quando o atual presidente era secretário da Segurança Pública de São Paulo (Governos Montoro e Fleury Filho). Lima também é ex-assessor do presidente.

O Coronel Lima foi preso no inquérito que apura favorecimento de empresas no setor de portos com um decreto assinado pelo presidente Temer em 2017. A suspeita do Ministério Público é de que executivos de uma companhia portuária pagaram propina para que a empresa fosse beneficiada com a medida.

O Coronel Lima é colocado em uma ambulância do Samu ao ser preso nesta quinta (Foto: GloboNews/Reprodução)

O telefone do ex-coronel foi apreendido na Operação Patmos, deflagrada em maio do ano passado com base na delação premiada da J&F. Lima foi apontado como intermediário de propina para o presidente Temer. De acordo com os delatores, o dinheiro de propina foi entregue em uma caixa na sede da Argeplan, empresa do ex-coronel.

A Polícia Federal encontrou doze ligações telefônicas entre Temer e o coronel aposentado, em um mês, além de chamadas para homens importantes do governo. No aparelho também foram encontrados contatos do empresário da JBS Joesley Batista, do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, e do ex-assessor do presidente, Jose Yunes.

No relatório, o escrivão da PF declara que “os dados analisados no celular de Lima demonstram” que ele é um homem com “acesso direto ao presidente Temer”, e a “investigados pela Operação Lava Jato”.

O documento também ressalta conversas que aparentemente remetem a pagamentos de propinas. Em 2017, o coronel aposentado foi intimado várias vezes pela PF, mas não compareceu em nenhum dos interrogatórios. A defesa declarou que a ausência foi por causa de problemas de saúde.

Documentos e propina

O coronel Lima é acusado de intermediar propinas a Temer. Uma empresa mostrou recibos de supostos repasses de propina atribuída ao presidente via seu amigo.

Os repasses teriam sido ordenados pelo empresário José Antunes Sobrinho, dono da empreiteira Engevix, que disse em tentativa de delação premiada que os valores tratavam-se de propina, em 2016. Sobrinho já foi condenado a mais de 21 anos de prisão por envolvimento no esquema de propinas da usina de Angra 3. O presidente da Engevix também responde ações sobre esquemas ilegais nos fundos de pensão da Caixa e no Banco do Nordeste.

Sobrinho disse que o repasse foi solicitado pelo coronel Lima em nome de Temer durante a campanha de 2014. Graças a Lima, a Engevix teria conseguido cerca de 70% de um contrato de R$ 162 milhões da estatal Eletronuclear e esse repasse era uma forma de retribuição, mostrou o jornal o El País. Veja os documentos AQUI.

Contador Florisvaldo e delatores da JBS

Em outro caso, delatores da J&F também disseram ter entregado R$ 1 milhão, em notas de R$ 50, no escritório de Lima em São Paulo, valor destinado ao emedebista.

O contador Florisvaldo Caetano de Oliveira, apontado como homem do grupo J&F responsável pelas entregas de dinheiro a políticos, relatou em seu acordo de colaboração com a Procuradoria-Geral da República (PGR) ao menos dois encontros com o coronel Lima.

De acordo com o delator, o primeiro encontro teve como objetivo conhecer o destinatário, chamado de “coronel”, e combinar a forma de entrega dos valores. No segundo encontro, por sua vez, Oliveira afirma ter entregado R$ 1 milhão em espécie para Lima Filho.

Outro delator, o diretor de relações Institucionais da J&F Ricardo Saud, responsável por solicitar os pagamentos à Lima Filho, entregou uma série de documentos à PGR comprovante que o endereço citado por Florisvaldo era o da empresa Argeplan, cujo dono é o amigo de Temer.

Coronel da Polícia Militar aposentado, Lima Filho é dono da Argeplan Arquitetura e Engenharia, empresa que faz parte de um consórcio que ganhou concorrência para executar serviços relacionados à usina de Angra 3 – cujas obras são investigadas na Operação Lava Jato.

A empresa finlandesa AF foi a vencedora de um contrato de R$ 162 milhões na Eletronuclear e, por exigência brasileira, subcontratou duas empresas locais: a Engevix e a AF Brasil – da qual a Argeplan faz parte.

Lima era gestor do contrato com a Eletronuclear, pela parte da Argeplan. O contrato foi assinado em 2012 para serviços de eletromecânica.

O jornal O Estado de S. Paulo revelou, em maio de 2016, que a Lava Jato investiga se houve negociação de propina nesse negócio. As irregularidades envolvendo as obras da usina foram delatadas por executivos da UTC, da Andrade Gutierrez, da Camargo Corrêa e, recentemente, da Odebrecht.

Offshore e duplex

O coronel também usou uma offshore no Uruguai para comprar dois imóveis em São Paulo, diz a Polícia Federal.

Lima se valeu de uma offshore sediada no Uruguai para comprar dois imóveis em São Paulo. Um deles, no qual Lima Filho mora e onde a Polícia Federal realizou busca e apreensão no âmbito da Operação Patmos, é um duplex.

As informações sobre os imóveis e a offshore Langley Trade Co. SA constam em relatório da PF sobre os itens apreendidos com o coronel no dia da deflagração da Patmos, em 18 de maio.

O MTST já ocupou fazenda do coronel.

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