Putin rompe silêncio para advertir que ainda pode intervirna Ucrânia

  • Por Agencia EFE
  • 04/03/2014 14h04

Moscou, 4 mar (EFE).- Dez dias depois da queda do presidente Viktor Yanukovich e com o mundo em expectativa com a crise na Crimeia, o presidente russo, Vladimir Putin, deixou aberta nesta terça-feira a possibilidade de enviar tropas às regiões orientais da Ucrânia, que têm uma população majoritariamente ligada à Rússia, se a situação assim exigir.

Putin rompeu seu enigmático silêncio para dizer que, por enquanto, não vai enviar essas tropas à Ucrânia, mas que se reserva ao direito “se a situação transbordar como em Kiev”, onde três meses de protestos da oposição e violentos distúrbios derrubaram o governo.

“Qual pode ser o motivo para o uso das forças armadas? Certamente um caso extremo”, disse o chefe do Kremlin, que defendeu a legitimidade desse hipotético passo.

Às vezes tranquilo, às vezes desafiante, mas sempre seguro de si mesmo, o líder russo deu uma entrevista coletiva, divulgada pela televisão, para justificar a intervenção militar não declarada da Rússia na Crimeia e que fez soar o alarme mundial.

Para Putin, o ocorrido em Kiev foi “um golpe de Estado anticonstitucional, resultado de uma insurreição armada. O novo poder ucraniano é ilegítimo e refém de extremistas nacionalistas e fez com que na capital e outras partes do país se estendesse o caos e a violência”.

Ele descreveu as novas autoridades ucranianas como “bêbados armados”, e justificou a necessidade de defender os russo-falantes das regiões do leste e do sul da Ucrânia e os russos étnicos da Crimeia (península russa cedida à Ucrânia em 1954), onde no último dia 27 o parlamento local designou um governo próximo de Moscou, com as portas fechadas e com a sede ocupada por um grupo armado de “autodefesa”.

A Rússia “tem um pedido do presidente legítimo da Ucrânia” (para ir ajudar a população), disse Putin, em alusão a Yanukovich, atualmente refugiado em território russo.

“Inclusive se tomarmos essaa decisão, de empregar as forças armadas, será legítima”, reforçou o presidente russo, que no fim de semana obteve autorização formal do Senado para isso.

Putin disse que a Rússia não pensa em anexar a Crimeia e garantiu que o bloqueio das unidades militares ucranianas nessa região autônoma não são de tropas russas.

“São as forças locais de autodefesa”, insistiu, respondendo assim à pergunta sobre por que então estão uniformizados como os militares russos: “isso seria preciso perguntar nas lojas que vendem uniformes parecidos com os russos”.

Segundo as autoridades ucranianas, praticamente todas as unidades militares na Crimeia estão rodeadas ou tomadas por soldados russos e Kiev também denunciou que, desde o início da crise, outros seis mil soldados entraram na região, além de alguns aviões e helicópteros de combate.

O presidente se mostrou convencido de que os militares russos e ucranianos “não estarão em diferentes lados das barricadas, mas do mesmo lado” pois muitos, inclusive, “se conhecem pessoalmente”.

Putin, que em de dias viu como a Rússia foi posta no gatilho pelo Ocidente, ameaçada com sanções econômicas e diplomáticas e com sua expulsão do G8 por causa da intervenção militar na Crimeia, contra-atacou lembrando estes países que muitas das guerras nas quais atuaram foram ilegítimas.

“Frequentemente nos acusam de ilegitimidade de nossas ações. E quando pergunto se acham que tudo o que fazem é legítimo, me respondem que sim. Então tenho que lembrar as ações dos Estados Unidos no Afeganistão, no Iraque, na Líbia”, enumerou.

E advertiu que as sanções internacionais contra a Rússia seriam contraproducentes e prejudicariam todas as partes, em um mundo “onde tudo está relacionado e todos dependem uns dos outros de alguma maneira”.

“Estamos nos preparando e nos alegraremos de receber nossos colegas, mas se não querem vir, tanto faz”, afirmou sobre a cúpula de chefes de Estado do G8 prevista para junho na cidade de Sochi, cuja participação foi suspensa pelos líderes ocidentais.

Em sua linguagem habitual, franca e direta, o líder do Kremlin arremeteu contra os EUA e os Estados europeus que apoiaram os opositores na Ucrânia e os acusou de experimentar com os países “como se fossem ratos”, sem pensar nas consequências. EFE

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