Rússia ignora pedido de retirada da ONU e defende sua ação na Crimeia

  • Por Agencia EFE
  • 03/03/2014 14h23

Marta Hurtado.

Genebra, 3 mar (EFE).- A Rússia ignorou nesta segunda-feira na sede da ONU as reivindicações internacionais para que mude de postura e retire as tropas enviadas à Crimeia, e se limitou a afirmar que suas ações respondem à defesa dos direitos fundamentais dos russos que vivem na Ucrânia.

“Os que tomaram o poder na Ucrânia estão impondo sua vitória para atacar os direitos fundamentais dos russos. É preciso defender-se desta agressão”, afirmou o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, na 25ª sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, que começou hoje em Genebra.

A defesa dos direitos fundamentais dos russos, ameaçados, segundo Lavrov, pelas ações das novas autoridades ucranianas, foi o fio condutor de seu discurso, no qual não houve lugar para a autocrítica ou relativizações.

Lavrov defendeu a bondade, necessidade e legalidade do pedido do Kremlin de pedir autorização ao Senado para enviar suas tropas na Crimeia, província autônoma ucraniana de maioria de origem russa.

A Crimeia foi parte da Rússia até 1954, quando o então líder soviético, Nikita Kruschev, a presenteou à Ucrânia, e abriga em seu território a base da frota russa do Mar Negro.

O Senado russo concedeu a autorização e durante o fim de semana forças militares russas tomaram posições na Crimeia.

Para o chanceler, não há nenhuma dúvida que os que governam em Kiev são “radicais antidemocráticos” que tomaram o poder de forma ilegítima e por isso a Federação Russa considera que tem o dever de “defender” os “irmãos russos” residentes na Ucrânia.

E advertiu que as forças russas permanecerão na Crimeia “até que se respeitem os direitos dos russos e se normalize a situação política”.

O poder na Ucrânia está agora nas mãos de um governo interino presidido por Aleksandr Turchinov desde que uma revolta civil conseguiu desbancar o anterior líder, Viktor Yanukovich, no último dia 22 de fevereiro.

De nada serviram os discursos pronunciados no Conselho por líderes ocidentais, especialmente europeus, nem os pedidos explícitos do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que solicitou à Rússia que a “independência, a segurança, e a integridade territorial” da Ucrânia fossem preservadas.

Estas palavras de Ban foram pronunciadas em entrevista coletiva, pouco antes que se reunisse para almoçar com Lavrov, para, entre outros temas, tratar a crise na Ucrânia.

Do transmitido pelos serviços de informação da ONU se imagina que Ban não teve sorte em suas tentativas de convencer Lavrov da necessidade de “frear” e de comprometer-se com a via do diálogo.

No encontro com a imprensa, Ban tinha confessado que sua conversa de sábado com o presidente russo, Vladimir Putin, também não tinha dado nenhum fruto.

Em nome da União Europeia falou Dimitris Kourkoulas, vice-ministro das Relações Exteriores da Grécia, país que exerce neste semestre a presidência do bloco, que criticou abertamente a intervenção militar russa.

“A União Europeia está extremamente preocupada com o que ocorre na Ucrânia. Estas ações violam a Carta das Nações Unidas, à qual a Rússia está submetida”, disse o ministro grego.

Kourkoulas aproveitou a ocasião para aplaudir “a comedida resposta” do governo interino da Ucrânia “até o momento” e deixar claro que a UE apoiará os esforços que o país faça para estabilizar a situação e fazer as reformas necessárias “com respeito aos direitos das pessoas pertencentes a minorias nacionais”.

Mais dramático foi o presidente da Confederação Helvética, Didier Burkhalter, presidente rotativo da Organização para a Cooperação e a Segurança na Europa (OSCE), que afirmou que os eventos na Ucrânia demonstram que a paz e a segurança na Europa “não estão asseguradas”.

O grande ausente da jornada foram os Estados Unidos, que não participaram do segmento de alto nível da sessão do Conselho como estava previsto.

Inicialmente, a embaixadora americana nas Nações Unidas em Nova York, Samantha Power, devia discursar hoje em Genebra, mas sua viagem foi cancelada e, até o momento, não foi justificada. EFE

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