Descoberta de câncer de mama mais antigo evidencia a prevalência deste tumor

  • Por Agencia EFE
  • 27/03/2015 15h10

Granada (Espanha), 27 mar (EFE).- A descoberta na necrópoles de Qubbet el-Hawa, na região egípcia de Assuão, do caso de câncer de mama mais antigo já conhecido até hoje, demonstra a igualdade das classes sociais do antigo Egito perante a doença, e quase a não variação das características deste tumor em quatro mil anos.

Foram os pesquisadores das universidades espanholas de Granada e Jaén (sul) os responsáveis por esta descoberta, que foi possível após acharem o esqueleto de uma mulher de entre 30 e 40 anos, pertencente à classe dominante da antiga cidade de Elefantina, que morreu em consequência da doença em torno de 2.200 a.C.

O corpo mumificado desta mulher, de 1,62 metros de altura, estava em um caixão comido pelos cupins dentro de um túmulo escavado em uma zona onde só era enterrada a classe dominante do lugar, que nessa época e naquela cidade seria formada por não mais de 150 pessoas de quatro ou cinco famílias.

Assim explicou nesta sexta-feira em entrevista coletiva o doutor em História Antiga da Universidade de Jaén Alejandro Jiménez, diretor deste projeto que soma sete anos de escavações (o último de pesquisa).

A análise dos ossos evidencia que a mulher estava afetada por metástases, que sofria além disso com uma grande osteoporose e que permaneceu na cama durante mais de um ou dois anos.

Por isso teve que contar com a contínua ajuda de um grupo humano para aguentar sua incapacidade devido à doença, segundo o diretor do laboratório de Antropologia da Universidade de Granada, Miguel Botella, que extrai deste dado outra conclusão sociológica.

“O povo vivia mal, no limite da sobrevivência, mas perante a doença, seu grupo humano se ajudava até a morte”, explica Botella sobre a sociedade de uma época e um espaço, o antigo Egito, no qual a sobrevivência “era a mesma para todos”, independentemente da classe social à qual pertencessem.

Além disso, a contaminação de água do Nilo era a origem de muitas doenças da época, fundamentalmente infecciosas, como a brucelose e a febre de Malta, além de tumores e outras degenerativas como artrose.

De fato, metade da população egípcia morria antes de completar cinco anos, segundo Botella, que para reforçar a ideia de que a classe social não importava na expectativa de vida, falou de casos como o do faraó Tutancâmon, que morreu aos 19 anos, ou o de outros conhecidos governadores que não superaram os 25 anos.

Tudo isto evidencia que os habitantes do antigo Egito viviam “muito pior” do que poderiam indicar seus grandes monumentos.

A descoberta também evidencia que as características do câncer de mama são “exatamente as mesmas” que as apresentadas pela população atual afetada por este tumor.

“Nos últimos 4 mil anos, esta doença mudou muito pouco”, segundo Botella, um dos antropólogos deste projeto arqueológico multidisciplinar realizado na necrópoles de Qubbet el-Hawa que, na opinião de seu diretor, que só revelou “a ponta do iceberg”.

Até agora, a notícia mais antiga sobre o câncer de mama remetia ao ano 1.600 a.C. (600 anos depois do achado nesta escavação) e aparecia descrita no conhecido Papiro Smith -um documento médico da Dinastia XVIII do Egito (do 1550 a 1.295 a.C.). EFE

bol/ff

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