Em reunião emergencial, Governo encomenda protocolo de chikungunya

  • Por Estadão Conteúdo
  • 26/04/2016 21h11
EFE/Jeffrey Arguedas mosquito da dengue

Em uma reunião de emergência realizada nesta terça-feira, 26, em Brasília, o Ministério da Saúde encomendou a um grupo de especialistas a elaboração de um protocolo direcionado a autoridades sanitárias para se investigar mortes suspeitas de terem sido provocadas por chikungunya. Como o jornal O Estado de S. Paulo revelou, os Estados de Pernambuco e Paraíba registraram este ano um expressivo e inexplicado aumento de mortes relacionadas a vírus transmitidos por mosquitos, arboviroses. A principal hipótese é de que os óbitos tenham sido provocados pela doença, conhecida até pouco tempo como prima da dengue.

Em Pernambuco, há 191 óbitos em investigação por arbovirose, oito vezes mais do que os 23 casos registrados no mesmo período no ano passado.

“A letalidade da doença era considerada como próxima de zero. Oficialmente confirmados no País são 15 mortes provocadas pela doença. É um número que está bem fora da curva”, avaliou o diretor de Vigilância em Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Cláudio Maierovitch. Na conta do Ministério, no entanto, não entram três novos casos confirmados em Pernambuco, mas que ainda não foram incorporados às estatísticas nacionais.

O aumento de casos de mortes relacionados a arboviroses espantou autoridades sanitárias. Até hoje, todos os instrumentos usados no País, tanto para notificação de óbitos quanto para investigação, levavam em consideração apenas a dengue, doença que chegou ao País na década de 80 e já provocou sucessivas epidemias. A chikungunya chegou ao País em 2014 e a zika, no ano passado. 

Mortes relacionadas a chikungunya eram muito pouco expressivas. As primeiras confirmações, referentes a registros ocorridos no ano passado, ocorreram há poucos meses. Até março, havia apenas dois casos. Agora, além de 12 casos confirmados por autoridades da Secretaria de Saúde de Pernambuco, há outros três casos na Bahia, 2 na Paraíba e um no Rio Grande do Norte.

“Precisamos dar uma resposta rápida. Investigar o que de fato está acontecendo”, afirmou o coordenador do Programa de Controle de Dengue do Ministério da Saúde, Giovanini Coelho para especialistas durante a reunião desta terça. A equipe terá como missão preparar um protocolo em que várias questões terão de ser observadas pelos médicos: quais sintomas o paciente apresentou, quais exames laboratoriais devem ser feitos em um primeiro momento, quais amostras devem ser coletadas.

Se forem confirmados os óbitos por chikungunya, uma série de questões deverão ser respondidas. Entre elas estão os motivos que levaram uma doença, até então considerada pouco letal, a provocar um aumento do número de mortes. Uma das hipóteses que serão investigadas é a ocorrência de infecções simultâneas – além de chikungunya, dengue ou zika. 

Outra possibilidade considerada muito importante por especialistas é que mortes tenham sido provocadas pela prescrição incorreta de medicamentos. Já há um consenso de que pacientes com zika e dengue, por exemplo, somente devem ser tratados com analgésicos que levem em sua composição paracetamol Chikungunya, no entanto, provoca fortes dores nas articulações. “Há uma tendência de médicos de receitarem, por exemplo, anti-inflamatórios não hormonais”, disse o professor da Universidade Federal de Pernambuco, Carlos Brito, um dos primeiros a chamar a atenção para o aumento das mortes por arboviroses no seu Estado.

Há ainda a automedicação. “É preciso checar todas as variantes e de forma rápida. As respostas serão importantes não apenas para esclarecer o passado, mas para dar instrumentos aos governos para que tomem todas as medidas necessárias”, disse Brito.

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