Sharon, um audaz estrategista e político sempre no olho do furacão

  • Por Agencia EFE
  • 11/01/2014 11h45

Jerusalém, 11 jan (EFE).- O ex-primeiro-ministro israelense Ariel Sharon desenvolveu ao longo de sua carreira um importante papel como estrategista militar e demonstrou uma audácia sem igual para a atividade política que, no entanto, não foi suficiente para deixá-lo longe da polêmica.

Falecido neste sábado aos 85 anos no hospital Tel Hashomer, em Tel Aviv, no qual estava internado desde 2006, quando sofreu um derrame cerebral, Sharon teve sua vida fortemente marcada pelo serviço a seu país e também pelos incontáveis escândalos que gerou desde que era um jovem oficial do exército.

Nascido na colônia agrícola de Kfar Malal, em 21 de fevereiro de 1928, em sua juventude ele combateu na organização paramilitar israelense “Haganah” e em 1948 participou da primeira guerra árabe-israelense.

Como jovem oficial do exército, dirigiu as ações de represália contra os “fedaim” que fustigavam Israel a partir dos países árabes vizinhos, chegando a ocupar o cargo de comandante-em-chefe da Brigada Paraquedista.

Formado em Direito pelas universidades de Jerusalém e de Tel Aviv, durante a Guerra dos Seis Dias de 1967 ele dirigiu uma companhia do exército, demonstrando já então seus dotes como estrategista militar e também uma problemática personalidade para obedecer às ordens de seus superiores.

Apesar disso, quando já estava na reserva, foi convocado de novo para combater durante a guerra do Yom Kippur de 1973, na qual, desobedecendo mais uma vez as ordens do Estado-Maior, dirigiu suas tropas até as portas do Cairo.

Seu êxito em conter o avanço do exército egípcio por meio de uma estratégia de contra-ataque pela retaguarda lhe valeu o reconhecimento como militar em Israel.

Após deixar o uniforme militar pela segunda vez, iniciou sua carreira política à frente de um partido chamado Shlomtzion, do qual passaria mais tarde ao Likud, que ele mesmo tinha ajudado a criar antes da guerra e no qual conseguiu reunir a direita nacionalista pela primeira vez.

Com a chegada ao poder de Menachem Begin, em 1977, Sharon é nomeado ministro da Agricultura, cargo no qual incentivou a colonização judaica da Cisjordânia e de Gaza. Um ano depois, Begin o designou como ministro da Defesa.

Em 1982, enquanto estava à frente desse ministério, protagonizou um dos capítulos mais obscuros de sua história ao promover a Operação Paz para a Galileia, que desembocou na prolongada Guerra do Líbano.

Durante essa disputa, uma comissão pública israelense o responsabilizou por permitir o massacre, por meio de milícias cristãs libanesas, de pelo menos 700 refugiados palestinos nos campos de Sabra e Shatila, que o exército israelense tinha sob sua vigilância. Este sangrento episódio o forçou a renunciar ao cargo.

Após a vitória eleitoral de Benjamin Netanyahu, em maio de 1996, Sharon foi nomeado ministro das Infraestruturas.

Dois anos depois, assumiu o posto de ministro das Relações Exteriores e, após a derrota eleitoral do Likud, em 1999, assumiu a liderança do partido pela primeira vez.

Sua provocadora visita à Esplanada das Mesquitas em Jerusalém Oriental, lugar sagrado para os muçulmanos, no dia 28 de setembro de 2000, quando era chefe da oposição, foi o pavio que acendeu a Intifada de al-Aqsa.

Em 6 de fevereiro de 2001, Sharon ganhou as eleições com ampla maioria.

Sua atitude provocadora e prepotente ao longo de sua dilatada carreira política o levou em várias ocasiões no olho do furacão. Em dezembro de 2001, confinou na Muqata de Ramala o então presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Yasser Arafat, por considerá-lo responsável pela intensificação dos atentados suicidas por parte de diversos grupos palestinos na segunda Intifada.

Em um fato sem precedentes, Sharon iniciou em agosto de 2005 o plano de evacuação de colônias judaicas da Faixa de Gaza, que incluiu a remoção de 8 mil colonos.

Era a primeira vez que Israel abandonava um território reclamado pelos palestinos, um feito com que parecia impensável para quem desde sempre tinha promovido sua ocupação a ferro e fogo.

Esta decisão causou uma irreversível fissura no histórico Likud, que Sharon deixou para criar o partido de centro-direita Kadima.

Seu sucesso arrasador com esta legenda, apesar dos vários escândalos de corrupção que lhe rondaram como chefe do Governo, acabou na noite do 18 de dezembro de 2005, quando sofreu um derrame de caráter moderado.

Duas semanas depois, devido à medicação, sofreu um derrame generalizado que o deixou definitivamente em coma e o desabilitou para exercer a chefia do Governo, que ficou nas mãos (até 2009) de Ehud Olmert.

Sharon era viúvo e pai de dois filhos, Gilad e Omri – que chegou a ser deputado de seu partido. EFE

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