Tea Party completa cinco anos de retórica incendiária com futuro incerto

  • Por Agencia EFE
  • 03/03/2014 16h23

Washington, 3 mar (EFE).- O movimento ultraconservador Tea Party, que celebrou o 5º aniversário de sua fundação na semana passada, anunciou que planeja incomodar nas primárias para as eleições legislativas de novembro, que começam amanhã, terça-feira.

Nascido como uma crítica à gestão de Barack Obama, o tea Party ganhou espaço na política americana a base de declarações incendiárias e agora, aos cinco anos de idade, se diz disposto a desafiar, mais uma vez, o setor mais moderado do Partido Republicano.

O Tea Party vê as primárias como o desafio mais imediato de um futuro que soa incerto. Nas próximas semanas é que se poderá ver se o movimento recuperará o empurrão das eleições de 2010, que marcaram sua ascensão, ou se a perda de fôlego de 2012 está consolidada.

“Vamos dar a volta neste país”, declarou o senador Ted Cruz, emblema do Tea Party e um dos políticos e um dos que mais aspira ser o candidato republicano à presidência em 2016, no ato de celebração do 5º aniversário do movimento, na quinta-feira.

Cruz ressaltou que o Tea Party é hoje mais forte do que nunca e exigiu que o partido republicano esteja mais presente nas candidaturas na próxima eleição.

Ao longo de seus cinco anos de vida, o movimento provou sua influência e provocou um giro à direita na política americana, mas hoje parece debilitado.

As vozes críticas dos republicanos, encabeçadas pelo presidente da Câmara dos Representantes, John Boehner, cada vez evidenciam mais o mal-estar com os ultraconservadores, e também dentro do Tea Party começam a aparecer divisões.

Porque outros dos líderes do Tea Party, como os senadores Rand Paul ou Mike Lee, chamaram à reflexão interna e sugeriram que, para subsistir e crescer, o partido precisa deixar de se concentrar nos protestos e avançar para uma agenda positiva.

“Podemos estar em desacordo com o presidente sem insultá-lo”, mediou Paul, que acrescentou: “temos que chegar a mais gente, não só aos que já estão aqui. Tem que ser um partido maior, um movimento maior”.

A moderação do discurso de Paul é uma novidade no Tea Party, que sempre se caracterizou pela retórica agressiva.

Das bocas de seus dirigentes saíram afirmações tão chamativas como a de que a gravidez das vítimas de estupro poderia ser desejo divino e que os homossexuais criaram a aids, além do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e a reforma da saúde aprovada pelo congresso sejam alvo de seus furibundos ataques.

A data que marca o início do movimento Tea Party é 27 de fevereiro de 2009, quando houve a convocação simultânea de manifestações em 40 cidades dos Estados Unidos para criticar as políticas de gastos públicos de Obama.

Era um momento de indefinição para o Partido Republicano, que depois do baque nas eleições de 2008 se debatia entre a moderação e o conservadorismo.

O Tea Party, que emprestou seu nome do motim patriótico feito em 1773 pelos então colonos americanos que, cansados da tirania britânica, atiraram cargas de chá no porto de Boston, e desequilibrou a balança a favor das posturas mais direitistas.

“A América está preparada para outra revolução” anunciou Sarah Palin, ex-governadora do Alasca que concorreu sem sucesso pela vice-presidência em 2008 e foi uma das primeiras heroínas do movimento.

E, com o apoio de pequenos grupos de ativistas e de multimilionários ultraconservadores, a revolução chegou.

O movimento cresceu, ganhou espaço na política americana e nas eleições legislativas de 2010 os republicanos recuperaram o controle da Câmara dos Representantes, reduziram distâncias com os democratas no Senado e os candidatos do Tea Party chegaram ao Congresso.

Nomes como os dos senadores Cruz, Paul e Lee e os congressistas Michele Bachmann e Steve King, desconhecidos há apenas alguns anos, saltaram à fama ao se unir ao “partido do chá”, da mesma forma que Marco Rubio, que depois se desvinculou desta corrente.

No entanto, nas presidenciais e legislativas de 2012 os republicanos perderam terreno e muitos responsabilizaram então o radicalismo do grupo pela derrota e previram o princípio do fim.

Mas o grupo demonstrou seu poder ao provocar o fechamento parcial da administração americana por 16 dias em outubro em sua queda de braço para derrubar a reforma da saúde de Obama, uma manobra que não foi bem recebida pelos setores mais moderados do partido.

O Tea Party tentará agora, nas primárias para a eleição de pleito de novembro, cuja campanha começa amanhã no Texas, que seus candidatos superem os pré-candidatos oficiais dos republicanos para continuar estendendo seu alcance. EFE

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.