2017 pode ser um ano mais interessante do que se imagina na Rússia
Vladimir Putin está tão habituado a disseminar desinformação e fake news que talvez até acredite em algumas, entre elas a força inexpugnável do seu poder junto às massas. Eu não estou muito convicto do que acabei de escrever. Acredito mais que a petulância de Putin seja fruto de insegurança.
De qualquer forma, a palavra de ordem é a de que os protestos domingo na Rússia contra a corrupção e contra o regime geral foram uma surpresa. A expectativa sempre é de mobilização em cidades como Moscou e São Petersburgo, com gente mais educada e cosmopolita. No entanto, a mobilização cobriu os 11 fusos horários da imensa Rússia, com protestos em mais de 90 cidades (até em Vladivostok, na Sibéria), engajando dezenas de milhares de pessoas.
Foram cenas de espancamento que correram o mundo e prisões de centenas de manifestantes, a destacar a de Alexei Navalny, o blogueiro que se converteu em líder da oposição e com audácia planeja concorrer contra Putin nas eleições presidenciais em 2018.
Foram os maiores protestos na Rússia em 5 anos e marotamente Navalny escolheu como alvo principal o patético primeiro-ministro Dmitry Medvedev (o Robin do Batman Putin). Isto depois de veicular na Internet um vídeo, detalhando as acusações de corrupção e o estilo nababesco de vida do funcionário público Medvedev, com suas mansões, iates e vinícolas.
O vídeo teve até agora 12 milhões de visualizações. Não é à toa que manifestantes foram às ruas com patos de borracha, em alusão à acusação de que o primeiro-ministro tem uma casa especial para abrigar um pato.
A lição óbvia é que denunciar corrupção é uma ferramenta efetiva de mobilização em Seul, em São Paulo ou na Sibéria. No caso russo, o hábil Putin tem o hábito de controlar as válvulas de escape. Ele não quer fechar o sistema completamente e existe um espaço para atuação cívica, mas obviamente as coisas podem fugir ao controle ou superar as expectativas.
Não podemos ter ilusões de que a revolução dos patos já está em marcha. Mas, é bom ver Putin suar um pouquinho. Garry Kasparov, o grande jogador de xadrez e líder da oposição, não resistiu a um xeque. Ele lembrou que 17 é um número interessante. A revolução foi em 1917 e os protestos de domingo ocorreram quando Putin celebrava 17 anos de poder. Quem sabe, 2017 seja um ano mais interessante do que se imagina na Rússia, atrás da fachada de indiferença e conformismo.
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