Com a clareira fechada, Colômbia mergulha na escuridão

  • Por Jovem Pan
  • 04/10/2016 05h58
EFE Colômbia

Eu bato na tecla que o acordo de paz na Colômbia entre o governo de Juan Manuel Santos e os narcoguerrilheiros das FARC por mais imperfeito que fosse era uma clareira na selva global de violência. Já era.

As imperfeições centradas na ausência de justiça completa devido à impunidade para os narcoguerrilheiros em troca de paz fecharam a clareira. O resultado foi o não no plebiscito de domingo.

Ficando na metáfora, com a clareira fechada a Colômbia mergulha na escuridão. Estão aí os paralelos automáticos com o voto Brexit, que culminou em junho na saída da Grã-Bretanha da União Europeia. É a ideia de que o povo rechaçou a “sabedoria” das elites.

Eu prefiro outro paralelo. Como no Brexit, não existe um claro plano B na Colômbia. No Brexit, as incertezas se intensificam pois a primeira-ministra Teresa May somente agora anunciou que as negociações com a União Europeia devem começar em março.

Existe um tênue esforço na Colômbia para ao menos preservar o cessar-fogo. Mesmo o grande adversário do acordo, o ex-presidente Álvaro Uribe, não fala em retomar o combate encarniçado contra os narcoguerrilheiros.

Sua retórica gira em torno da ideia de um acordo melhor. Uribe fala em um pacto nacional, mas não expressa disposição para conversar nem com os narcoguerrilheiros nem com Juan Manuel Santos, seu sucessor e seu ministro da Defesa. Então, qual é o plano?

As incertezas apenas aumentam diante da frouxidão dos números do plebiscito. Obviamente que não há discussão sobre um voto democrático e soberano. Mas, aqui é necessário um “mas”. Nem trata da margem apertadíssima da vitória do “não” (abaixo de meio por cento, com diferença de 60 mil votos). O ponto a ressaltar é o anêmico comparecimento às urnas

Votaram apenas 38% dos eleitores. Um plebiscito que envolve vida e morte exige uma legitimidade mais robusta. No mínimo, 50% dos eleitores precisariam votar para que houvesse validade no plebiscito.

Basta ver o que aconteceu na Hungria. O autocrático primeiro-ministro Viktor Orban, um Trump mais refinado, conseguiu apenas uma vitória parcial no plebiscito de domingo sobre aceitação de mais refugiados no país.

Sim, 98% dos eleitores se recusaram a permitir que a União Europeia force a Hungria a aceitar mais refugiados. Mas, o comparecimento às urnas foi de 40%, bem abaixo dos 50% necessários para o referendo ter validade jurídica.

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