Culto e polêmico, Francis foi o rei do espetáculo, diz ex-parceiro de bancada

  • Por Jovem Pan
  • 04/02/2017 15h44
Brasil, São Paulo, SP. 22/05/1991. O jornalista, escritor e crítico de teatro, Paulo Francis, concede entrevista no prédio do Jornal O Estado de S. Paulo, na capital paulista. Foto: Ana Carolina/AE Pasta: 32.246 - Crédito:ARQUIVO/ESTADÃO CONTEÚDO/AE/Codigo imagem:44006 Estadão Conteúdo Paulo Francis - AE

Morto há exatos 20 anos, Paulo Francis foi, sem dúvida, uma grande influência para diversos jornalistas brasileiros.

O comentarista internacional da Jovem Pan Caio Blinder é um desses influenciados. Os dois dividiram a bancada do programa Manhattan Connection desde sua criação, em 1993, até a morte de Francis, em 1997. Para Blinder, antes de relembrar a história, é preciso deixar claro que: “você não divide com Francis, você acompanha o Francis”, brinca.

Francis possuia uma cabeça independente, ele foi um dos principais comentaristas políticos e de cultura da história do jornalismo brasileiro. Seu eixo central sempre era a polêmica e ficou conhecido por abordar os assuntos que todo mundo tratava formalmente de uma maneira irreverente. “Ele foi um dos pioneiros do politicamente incorreto”, diz Blinder.

Sim. Caio Blinder garante que o Paulo Francis falava daquele jeito. “Quando estava no ar, ele forçava um pouco a dicção, mas o que o espectador via na televisão era o mesmo Francis que bebia café antes de entrar no estúdio.”

Afirmação profética, processo e morte
No início de 1997, Francis fez uma série de críticas a Petrobras durante uma edição do Manhattan Connection. No comentário, ele propôs a privatização da estatal, além de acusar o presidente na época, Joel Rennó, e outros diretores de terem mais de 50 milhões de dólares em contas na Suíça.

Os diretores da Petrobras moveram, então, um processo contra Francis na justiça norte-americana. A alegação era de que, como o programa também era exibido nos EUA, isso atrapalharia a entrada de capital estrangeiro na empresa. A indenização exigida era de 100 milhões de dólares.

A situação tomou boa parte da vida de Francis. Algumas pessoas acham que o estresse que ele sofreu nesse processo seria a causa da sua morte por parada cardíaca. Blinder rebate: “ele se alimentava mal e era sedentário”, diz. Além disso, Blinder acredita que ele provavelmente teria vencido esse processo. “Era liberdade de imprensa”, diz.

O fato é que, 20 anos depois, a afirmação de Francis foi profética. O Brasil assistiu a estatal se afundar em um mar de lama e corrupção nos últimos anos. “Ali era um Petrolinho, depois veio o Petrolão”.

Influência
Blinder lembra que começou a ler os textos de Paulo Francis ainda muito jovem, em meados dos anos 70. Francis já colaborava para o icônico Pasquim. “Eu era tiete dele. Em seus textos monstruosos, ele citava um monte de nomes e livros que eram referências”, diz. Em uma época sem internet, a solução era tomar nota de tudo e procurar a biblioteca. “Eu anotava tudo”, afirma Blinder.

Caio Blinder finaliza: “nunca vou ter a verve, nunca vou ter a cultura e nem o sarcasmo de Paulo Francis, mas sou muito grato a ele”, diz.

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