Donald Trump é um coquetel molotov

  • Por Caio Blinder/Jovem Pan
  • 03/02/2017 05h50
MR01. WASHINGTON (EE.UU.), 26/01/2017.- El presidente de EE.UU. Donald J. Trump saluda a su llegada hoy, jueves 26 de enero de 2017, luego de descender del Marine One en el patio sur de la Casa Blanca en Washington (EE.UU.). Trump regreso de Filadelfia donde asistió a un retiro con líderes de la Cámara y el Senado de EE.UU. EFE/MICHAEL REYNOLDS EFE/MICHAEL REYNOLDS efe - Presidente dos EUA Donald J. Trump

Um funcionário de carreira, como um diplomata, serve o seu país, goste ou não goste do seu presidente ou da política externa que ele implementa. Em uma ditadura, não há muito papo. Obedece ou obedece. Sabemos qual é a terceira opção. Mas e em uma democracia? E em democracia que tem Donald Trump como presidente?

Está aí a capa corrente da revista The Economist. O homem é um coquetel molotov. Arremessa seus impropérios, dispara tuítes, bate o telefone na cara de dirigentes de países muito aliados dos EUA, como a Austrália, e sua perigosa política externa é uma mistura de caos, improvisação e bravatas. Os EUA de Trump não são para amadores.

E o que fazem os profissionais? Trump é o insurgente, mas também existe uma insurgência sem precedentes contra ele em vários departamentos governamentais. Esta semana, a ministra da Justiça interina (resquício do governo Obama) se amotinou contra a ordem executiva, alvejando imigrantes e refugiados. Foi demitida.

O regime Trump vira ao avesso a diplomacia americana e insulta os profissionais do ramo. No Departamento de Estados, os funcionários têm um instrumento para canalizar a dissidência sem supostamente sofrer retaliações. Mais de mil funcionários assinaram um documento, divergindo da ordem executiva sobre imigrantes e refugiados. Algo histórico. O recorde anterior eram 5o assinaturas.

Este canal de dissidência foi estabelecido na época da Guerra do Vietnã. Há anos em que não é usado Em outros, é usado pesadamente, com em conflitos controvertidos, Vietnã, Balcãs, Iraque e Síria.

John Brady Kiesling trabalhou por duas décadas no Departamento de Estado e recebeu um prêmio por dissidência construtiva da American Foreign Service Association quando defendeu a intervenção humanitária dos EUA na Bósnia nos anos 90. Ele pediu demissão quando houve a invasão do Iraque em 2003, dizendo que promover a então política externa do país violava sua consciência.

Em entrevista à NPR, a rádio pública americana, Kiesling diz que Trump desafia o profissionalismo do Departamento de Estado, desrespeitando um sistema, que pode ser imperfeito, mas é comprometido com a proteção do país.

Sem medir palavras, ele diz que Trump e seus assessores são “basicamente um bando de idiotas, sem noção de como o mundo funciona” e decidiram dar um chega-para-lá a quem dedicou uma vida a proteger os EUA.

Trump foi eleito e tem um mandato, mas o ex-diplomata Kiesling alerta que o “presidente fez uma promessa para dar segurança ao povo americano. Ele precisas entender quais são os motivos e mecanismos que geram terrorismo”. 

São desafios estudados pelo Departamento de Estado, CIA e Pentágono desde os anos 60. As instituções aprenderam alguma coisa no processo. Assim, antes de dar botinadas no sistema, ele deveria aprender porque o sistema faz o que faz.

Parece muito tarde.

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