Ebola, o vírus político

  • Por Jovem Pan
  • 14/10/2014 18h02

Em uma epidemia é sempre difícil calibrar a necessidade de prevenir e alertar sobre uma epidemia e a tarefa de prevenção do alarmismo. Para ficar apenas no caso do ebola nos EUA, está aí o vírus do histerismo, do oportunismo político e da leviandade.

A revista The New Yorker relata o papo de duas pessoas em uma loja de ferragens em Nova York. Um vendedor, ecoando a sabedoria dos demagogos, disse que a solução era fechar o país para a entrada de estrangeiros e recorrer à eutanásia dos doentes. Excessivo? A outra sábia proposta no papo da loja era jogar uma bomba atômica na Libéria, um dos focos da epidemia.

No ritual americano da desconfiança populista das instituições, existem ataques aloprados contra o governo Obama e contra os “chamados especialistas”. Temos a doença da polarização. Republicanos desconfiam do governo Obama e a palavra-de-ordem é investir contra sua incompetência para combater de tudo, do terror do Estado Islâmico ao terror da epidemia Ebola. Dá para imaginar se um republicano fosse o presidente. Ele seria o alvo de ataques do gênero.

No entanto, são seis anos de Obama na Casa Branca, algo irresistível para os demagogos de direita irem à carga com fúria e ignorância. Existem propostas para que as fronteiras sejam completamente fechadas. Presidenciáveis republicanos como o doutor Rand Paul estão infatigáveis no alarmismo, acusando o governo de minimizar a gravidade Ebola em função do “politicamente correto” (precisa fazer média com os negros e imigrantes).

Teorias conspiratórias são epidêmicas. O bom senso indica que medidas de precaução e de quarentena pontual devem ser adotadas, mas não faz sentido e nem é possível isolar o país. Deve haver uma estratégia de abertura controlada e uma luta global para combater o vírus na fonte, na África.

Haja paciência para essa conversa na loja de ferragens em Nova York. Barack Obama é um presidente frágil e a tentação de soluções fáceis e insensatas é devastadora. Se tivermos mais casos de Ebola nos EUA, o presidente será de vez tratado como um vírus por muita gente.

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