Estamos de volta à dinâmica de tensões entre Washington e Moscou
Neste começo de semana, estou obcecado com citações de ex-primeiros-ministros britânicos para falar da crise síria e redondezas. Segunda-feira foi citação do supremo Winston Churchill (“Se Hitler invadisse o inferno, eu faria uma referência favorável ao diabo na Câmara dos Comuns”). Hoje é a vez de Harold Wilson, primeiro-ministro do segundo escalão, mas com sábia citação, embora pareça óbvia: “Uma semana é um longo tempo em política” e eu arremato: também em geopolítica.
Há uma semana, o ditador egípcio Sisi foi recebido com tapete vermelho na Casa Branca de Trump, tratado como um exemplo de homem-forte. Agora, ele parece vulnerável e é claro que a minoria cristã do Egito ainda mais, após os medonhos atentados suicidas praticados em nome do Estado Islâmico no domingo.
O recado do terror: não contem com a proteção de Sisi. O ditador acelerou o passo no círculo vicioso ao incrementar a repressão, com a decretação do estado de emergência, o que vai intensificar ainda mais a violência jihadista. O Egito foi do Inverno Árabe com Mubarak para a tumultuada Primavera Árabe e está de volta ao inverno político, sua estação preferencial.
Mas, obviamente, de semana em semana o personagem é Donald Trump. Ele nos enganou: há uma semana ainda era o presidente empenhado em não enfiar a mão nas areias movediças do Oriente Médio, com muitos desconfiados que era marionete de Vladimir Putin.
O debate sobre que tipo de dívida eleitoral Trump tinha com Putin foi substituído pelo alcance da falência do novo relacionamento. Sempre foi intrigante a aversão de Trump para falar mal de Putin. Agora estamos na fase de estimar o estrago causado nas relações Washington-Moscou depois do lançamento de mísseis americanos contra a base aérea de Bashar Assad pelo uso de armas químicas contra sua própria população.
É cada vez mais improvável a reaproximação entre os dois países com a cobrança americana para que Putin abandone Assad. Em termos imediatos, temos o contrário: Moscou cerra fileiras com seu apadrinhado. Estamos de volta à dinâmica de tensões entre Washington e Moscou que antecedeu a vitória de Trump. Existe uma tensão que lembra o que Trump alertava sobre Hillary Clinton: se ela for presidente, o clima vai fechar de vez com os russos e haverá perigo até de Terceira Guerra Mundial
Distante está a especulação de que haveria uma grande barganha: com os americanos fazendo concessões aos russos na crise ucraniana, em troca de esforços coordenados para combater o Estado Islâmico e conseguir algum tipo de arranjo diplomático na guerra civil síria.
Eu não sei como vai terminar esta crise, mas gente como Trump e Putin se encaixa em uma citação, mais uma de ex-primeiro-ministro britânico, Lorde Palmerston: “Eu não tenho amigos, eu não tenho inimigos, eu só tenho interesses”.
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