Estamos de volta à dinâmica de tensões entre Washington e Moscou

  • Por Caio Blinder/Jovem Pan
  • 11/04/2017 06h01
MRD05. Washington (United States), 28/01/2017.- US President Donald J. Trump (L) speaks on the phone with President of Russia Vladimir Putin, with White House Chief of Staff Reince Priebus (R) behind, in the Oval Office of the White House in Washington, DC, USA, 28 January 2017. President Trump has chosen the day to talk with different world leaders, significantly Russia's Vladimir Putin and Germany's Angela Merkel by telephone. (Rusia, Alemania, Estados Unidos) EFE/EPA/MICHAEL REYNOLDS EFE Trump e Putin concordam em coordenar ações na Siria contra o EI - EFE

Neste começo de semana, estou obcecado com citações de ex-primeiros-ministros britânicos para falar da crise síria e redondezas. Segunda-feira foi citação do supremo Winston Churchill (“Se Hitler invadisse o inferno, eu faria uma referência favorável ao diabo na Câmara dos Comuns”). Hoje é a vez de Harold Wilson, primeiro-ministro do segundo escalão, mas com sábia citação, embora pareça óbvia: “Uma semana é um longo tempo em política” e eu arremato: também em geopolítica.

Há uma semana, o ditador egípcio Sisi foi recebido com tapete vermelho na Casa Branca de Trump, tratado como um exemplo de homem-forte. Agora, ele parece vulnerável e é claro que a minoria cristã do Egito ainda mais, após os medonhos atentados suicidas praticados em nome do Estado Islâmico no domingo.

O recado do terror: não contem com a proteção de Sisi. O ditador acelerou o passo no círculo vicioso ao incrementar a repressão, com a decretação do estado de emergência, o que vai intensificar ainda mais a violência jihadista. O Egito foi do Inverno Árabe com Mubarak para a tumultuada Primavera Árabe e está de volta ao inverno político, sua estação preferencial.

Mas, obviamente, de semana em semana o personagem é Donald Trump. Ele nos enganou: há uma semana ainda era o presidente empenhado em não enfiar a mão nas areias movediças do Oriente Médio, com muitos desconfiados que era marionete de Vladimir Putin.

O debate sobre que tipo de dívida eleitoral Trump tinha com Putin foi substituído pelo alcance da falência do novo relacionamento. Sempre foi intrigante a aversão de Trump para falar mal de Putin. Agora estamos na fase de estimar o estrago causado nas relações Washington-Moscou depois do lançamento de mísseis americanos contra a base aérea de Bashar Assad pelo uso de armas químicas contra sua própria população.

É cada vez mais improvável a reaproximação entre os dois países com a cobrança americana para que Putin abandone Assad. Em termos imediatos, temos o contrário: Moscou cerra fileiras com seu apadrinhado. Estamos de volta à dinâmica de tensões entre Washington e Moscou que antecedeu a vitória de Trump. Existe uma tensão  que lembra o que Trump alertava sobre Hillary Clinton: se ela for presidente, o clima vai fechar de vez com os russos e haverá perigo até de Terceira Guerra Mundial

Distante está a especulação de que haveria uma grande barganha: com os americanos fazendo concessões aos russos na crise ucraniana, em troca de esforços coordenados para combater o Estado Islâmico e conseguir algum tipo de arranjo diplomático na guerra civil síria.

Eu não sei como vai terminar esta crise, mas gente como Trump e Putin se encaixa em uma citação, mais uma de ex-primeiro-ministro britânico, Lorde Palmerston: “Eu não tenho amigos, eu não tenho inimigos, eu só tenho interesses”.

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