Fiz o caminho inverso de Trump, e espero ficar por mais tempo

  • Por Caio Blinder/Jovem Pan
  • 07/02/2017 06h03
MCX34 WASHINGTON DC (ESTADOS UNIDOS) 20/01/2017.- Vista de la Casa Blanca al amanecer en Washington DC (Estados Unidos) hoy, 20 de enero de 2017. El presidente electo, Donald Trump, junto con su esposa y familia, el vicepresidente, Mike Pence, y miembros de su equipo dio hoy inicio al día en que será investido presidente de Estados Unidos con la asistencia a un servicio religioso en una iglesia frente a la Casa Blanca. EFE/Kevin Dietsch / Pool EFE/Kevin Dietsch Amanhecer na Casa Branca no dia em que recebeu Donald Trump como presidente dos EUA

Dizem que sou obcecado por Donald Trump, que meu passatempo é falar mal do quadragésimo-quinto presidente americano. Mas, temos algo em comum: a mudança. Não, não mudei minha opinião sobre o sucessor de Barack Obama e agente do caos, mas, veja que coisa: ele vivia em uma torre e se mudou para uma casa em outra cidade. Eu fiz o caminho inverso.

De uma casa, fui para uma torre. O nome dela não é Blinder Tower e nem fica na Quinta Avenida, em Manhattan. Como minha ex-casa no aprazível subúrbio de Glen Rock, sigo vivendo em New Jersey em um mero prédio de apartamentos com nome metido a besta, The Excelsior, em uma cidade chamada Hackensack.

Fui lá para cima, décimo-segundo andar, e eu me sinto em Niterói com uma bela vista da cidade maravillhosa que é Nova York. Não sou chegado em numerologia, mas me dei conta do seguinte: minha primeira morada foi em apartamento, na rua Prates, em São Paulo, em frente ao Jardim Luz: decimo-primeiro andar. Com 10 anos, fiz a mudança para o bairro da Consolação, décimo-terceiro andar. Hoje, no décimo-segundo, estou no meio do caminho na minha vida em apartamento.

Morei até agora em casa na minha vida americana. Por 22 anos na pequena Glen Rock, a 40 quilômetros de Times Square. Quem acompanha meu trabalho na imprensa ou leu meus prosaicos e modestos livros, sabe das histórias dos meus vizinhos.

Tive o Bob e o Bob, craques nas habilidades suburbanas, como aparar grama do jardim ou limpar a neve, atividades sempre abomináveis para uma criatura tão urbana e desajeitada como Mr. Blinder. Semana passada, caiu um nevão por aqui. Meio mesquinho, imaginei os Bobs dando conta do recado, enquanto eu apreciava a paisagem do décimo-segundo andar, aqui em Niterói, perdão, Hackensack.

Falando em tempestades, a mudança do Mr. Trump se revela caótica. Está nítido o fato de que ele não consegue fazer a transição de candidato a presidente, de apresentador de reality-show a líder do mundo livre. Dizem que caos é o método de gestão do Mr. Trump, que, aliás, deixou a primeira-dama Melania na torre da Quinta Avenida. Para a torre de Hackensack, o suposto chefe da família veio com a mulher, que obviamente dá as ordens.

E eu não tenho coragem de recorrer. Achei melhor acatar a ordem executiva da minha primeira dama: desencaixote os livros e as tralhas. Prometi terminar a tarefa antes do final do mandato do colega que recentemente fez mudança para Washington. Não sei, porém, se ele realmente vai ficar um tempão naquela casa branca. Quanto a mim, espero ficar anos a fio por cima, no décimo-segundo andar do Excelsior.

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