França marcha para uma das mais incertas eleições presidenciais

  • Por Caio Blinder/Jovem Pan
  • 06/02/2017 05h58
VAL105 PARÍS (FRANCIA), 03/06/2016.- Vista general del río Sena en París, Francia, hoy, 3 de junio de 2016. El río Sena a su paso por París superará esta noche su pico máximo esperado y se prevé que pueda alcanzar entre 6,30 y 6,50 metros de altura, debido a las fuertes lluvias caídas a lo largo de la semana que mantienen en alerta naranja trece departamentos en toda Francia, en especial en región parisina. EFE/JEREMY LEMPIN EFE Chuvas França

A França marcha para uma das mais incertas eleições presidenciais de sua história. A corrida está embolada já para o primeiro turno em 23 de abril (o segundo será em 7 de maio) com o pique do candidato Emmanuel Macron, que, na necessidade didática de rótulos, podemos definir como o centrista, embora tenha sido ministro da Economia do desastroso presidente socialista François Hollande.

O jovem Macron (de 39 anos) corre como independente à frente do novo partido En Marche e ameaça ultrapassar os dois corredores bem à sua direita, o muito conservador François Fillon e Marine Le Pen, lá na marginal.

Macron merece o rótulo de centrista, pois à sua esquerda, também há os corredores que se deslocam pela marginal, a destacar o vencedor das primárias socialistas, Benoit Hamon, que realmente tem a agenda que faria Thomas Morus, o autor do livro Utopia, morrer de inveja. Entre outras propostas, semana de trabalho de 32 horas, legalização da maconha e um salário básico para cada francês de 800 euros mensais.

Marine Le Pen é o que é: camarada de Trump e Putin, empenhada em detonar a União Europeia, nostálgica, nativista, uma mistura da demagogia de direita e de esquerda, com suas generosas propostas assistencialistas que atraem ex-proletas comunistas.

Fillon é um conservador da pesada, um favorito de setores religiosos tradicionais, mas acabou enfronhado num petite escândalo, para padrões brasileiros, que pode se revelar fatal: colocou mulher e filhos na folha de pagamento de estado, o que é legal, mas ao que consta a parentada nunca trabalhou para valer. Pega mal para um cardeal da moral e bons costumes.

Com agilidade, Macron agora acelera o passo, tirando proveito da desmoralização de Fillon e com setores da população apreensivos com a onda Trump, na qual Marine Le Pen surfa com gosto. O discurso dele é ostensivamente pró-europeu, com a ideia de fortalecimento da parceria com a Alemanha (especialmente depois do Brexit), mais gastos militares e se posicionando como o candidato da globalização e dos interesses ocidentais (vale lembrar que Fillon é complacente com Putin).

Macron marcha com o passo correto quando as clássicas divisões entre esquerda e direita estão surradas. Elementos como Marine Le Pen e Trump são porta-bandeiras da insularidade, do ressentimento e do medo. Fillon quer reeditar Margaret Thatcher, mas de fato, não é um cavalheiro de ferro.

Macron não resistiu e disparou petardos contra Trump num comício no sábado, sem mencionar o nome do presidente americano. Disse que se Trump fecha as portas a imigrantes e à gente empreendedora do mundo, a sua França estará disposta a acolhê-los.

E não faltaram referências ao muro mexicano de Trump. Macron o comparou à linha Maginot, as fortificações que não impediram a invasão da França pelos alemães em 1940. As pesquisas mostram que Marine Le Pen vai para o segundo turno em 7 de maio. Mostram tambem que seria então derrotada por Fillon ou Macron.

Resta saber se eleitores conservadores da velha escola, que supostamente abominam o discurso de Marine Le Pen, vão realmente tapar o nariz e saltar o muro, votando num centrista (ok, centro-esquerda), repetindo o que a esquerda fez em 2002, abençoando o conservador Jacques Chirac contra Jean Marie Le Pen, o papai de Marine. 

O trocadilho fácil para a campanha de Macron: ele é a marcha adiante. Marine Le Pen: a marcha a ré. Tudo incerto, mas a França vai marchar.

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