Hoje, Miss Liberty está triste

  • Por Caio Blinder/Jovem Pan
  • 01/02/2017 05h58
EFE / PETER FOLEY Estátua da Liberdade reabre apesar da paralisação parcial do governo dos EUA

Nesta era de Donald Trump de medidas draconianas contra imigrantes e refugiados de países predominantemente muçulmanos, nem todos bradam com orgulho que a América é a terra dos imigrantes, que acolhe gente de todas as partes. Lá estão as palavras no pedestal da Estátua da Liberdade: “Dai-me os seus fatigados, os seus pobres, as suas massas encurraladas ansiosas por respirar liberdade”

Na verdade, a terra dos imigrantes e da acolhida calorosa nem sempre é assim.

No seu discurso de despedida presidencial em 1989, Ronald Reagan (reverenciado por Trump) contou a história do encontro nos anos 70 entre um barco patrulha americano e um bote com refugiados vietnamitas no Mar do Sul da China, que queriam ir aos EUA. Um refugiado gritou: Alô, marinheiro americano, alô, homem da liberdade”. Os tempos de Reagan eram da política de portas abertas. Com Trump, a ideia é fechar a porta, no aeroporto para muçulmanos e no muro para os mexicanos.

E a oscilação tem sido constante na chamada terra dos imigrantes. Ironicamente, o Partido Republicano até recentemente tinha uma postura generosa sobre imigrantes. George W. Bush se esforçou para que fosse aprovada uma nova lei de imigração e sempre deixou claro que os EUA não podiam simplesmente antagonizar o islamismo, como Trump faz agora.

O atual presidente, porém, integra uma galeria histórica de políticos hostis ao que vem de fora, liderando ou ecoando os sentimentos da opinião pública. Hoje, por sinal, apesar de fúria e protestos nas ruas e nos aeroportos contra as medidas de Trump, as pesquisas mostram que no mínimo o país está dividido sobre elas. E a minha sensação é a de que Trump tem mais apoio popular do que se imagina nesta questão de imigrantes e refugiados.

E ao longo da história, tanto políticas abertas como as fechadas tiveram alta aprovação popular. O nativismo à la Trump, sinônimo de portas fechadas, cresce em momentos de crise econômica, alta ansiedade ou simplesmente quando muita gente passa pela porteira.

Em 1924, o presidente Calvin Coolidge, ao assinar a lei que deu fim ao maior fluxo de imigrantes na história americana disse: “A América deve permanecer americana”. A nova legislação, baseada na cascata cientifica da eugenia, reduziu drasticamente a vinda de “grupos socialmente inadequados” como italianos e judeus da Europa Oriental.

E de pensar que o herói da luta contra Hitler, Franklin Roosevelt, resistiu aos apelos da comunidade judaica americana, para acolher as vítimas preferenciais do programa de extermínio nazista. Em 1965, o presidente Lyndon Johnson foi até a Estátua da Liberdade para assinar a lei que reabriu a porteira. Hoje, Miss Liberty está triste. Não vai acolher de forma efusiva Mr. Trump quando ele aparecer no monumento.

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