O “reality show” e a turma do fim do mundo

  • Por Caio Blinder/Jovem Pan Nova Iorque
  • 23/01/2017 08h02

Matteo Salvini (Itália) EFE/EPA/SASCHA DITSCHER Matteo Salvini

Estamos na confluência de momentos dramáticos na história. E antes de tudo, peço desculpas por não enfiar neste história o nosso Brasil, que vive seus próprios momentos dramáticos, seus próprios desastres.

Nos EUA, o reality-show é realidade com Donald Trump na presidência desde sexta-feira. E no day after, sábado, os protestos em várias cidades americanas suplantaram a participação popular na cerimônia da posse de sábado. Mentira, esbravejou Trump. A maior realidade é o seu show, o maior espetáculo na Terra.

Sim, estamos na confluência entre realidade e reality-show. E foi também no sábado que tivemos outra confluência histórica, justamente na cidade alemã de Koblenz, Coblença, nome que vem do latin confluentia. Lá se encontram os rios Reno e Mosela, ponto estratégico e por esta razão o local foi batizado com este nome pelos romanos há mais de dois mil anos. Coblença também é conhecida como a esquina da Alemanha e no sábado foi a ambição de se converter na esquina da Europa com um grande encontro.

Coblença foi o cenário da confluência das forças populistas europeias da ultradireita. Suas lideranças se reuniram para saudar a chegada de Donald Trump, voltaram a festejar o Brexit (a saída da Grã-Bretanha da União Europeia) e não esconderam seu entusiamo com as eleições programadas para este ano na Holanda, França e Alemanha.

O slogan desta turma ultranacionalista disposta a detonar a União Europeia, para a alegria do Grande Irmão Vladimir Putin, é a “primavera dos patriotas”. É um slogan, que Trump, o camarada de Putin, chamaria de fantástico. Um alvo preferencial dos ataques desta turma foi a primeira-ministra alemã Angela Merkel, hoje o que sobrou de liderança importante na civilização ocidental, com seus nobres ideais de democracia liberal, livre comércio e tolerância.

Lá estavam a francesa Marine Le Pen, o holandês Geert Wilders, a alemã Frauke Petry e o italiano Matteo Salvini. O oxigenado Wilders resumiu o sonho: “Ontem, uma nova América; hoje, Coblença; amanha, uma nova Europa”.

A arenga continuou com Marine Le Pen, que seguramente chegará ao segundo turno das eleições francesas, dizendo que “2017 será o ano em que os povos da Europa continental vão despertar”. Para ela, estamos assistindo ao fim de um mundo e ao nascimento de um outro”.

No meu trocadilho óbvio, toda esta turma é o fim do mundo. E aqui passo a palavra para o historiador britânico Timothy Garton Ash para descrever estes dias sombrios, de adoração mútua entre nacionalismo e a erosão do poder relativo e da coerência interna do Ocidente nos dois lados do Atlântico.

Neste tenso e sombrio jogo de nacionalismo é importante colocar outros personagens estratégicos como o chinês Xi Jinping, o indiano Narendra Modi e o turco Recip Erdogan.

A história nos ensina que a primavera de estridentes nacionalismos termina em inverno tenebroso. Aconselhável temer algumas confluências históricas.

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