Oposição também tenta tirar presidente da Venezuela, que está nas trevas

  • Por Caio Blinder/ JP Nova Iorque
  • 29/04/2016 07h58

Nicolás Maduro não tem como aliado um "PMDB" para fazer a transição

EFE/PRENSA MIRAFLORES Nicolás Maduro - EFE

Para um Brasil ansioso, aflito e inquieto, que conta os dias para o apagar das luzes do governo Dilma, nunca é consolo a escuridão nas vizinhanças, como na Venezuela, onde um blecaute foi imposto pelo chavismo devido à crise de energia. Mas vamos lá falar das tragédias do vizinho.

Esta semana, a oposição que controla a Assembleia Nacional achou que tinha motivos para celebrar no seu esforço para desalojar o presidente Nicolás Maduro por vias democráticas, constitucionais e pacíficas. Em uma decisão inesperada, o Conselho Nacional Eleitoral, aparelhado pelos chavistas, anunciou que estava finalmente pronto o formulário para a tramitação do referendo sobre Maduro.

No entanto, a alegria da oposição foi passageira. Pouco depois do anúncio, o governo informou que as repartições públicas vão trabalhar apenas dois dias por semana, para economizar energia. As dúvidas sobre a concretização do referendo reapareceram.

Com a nova jornada de trabalho dos funcionários públicos, a auditoria das assinaturas que devem ser colhidas para a convocação do referendo pode demorar mais tempo que a oposição calculara. Se o referendo tiver lugar depois de 10 de janeiro de 2017, mesmo com o voto para a saída do poder de Maduro, é o vice-presidente que assume automaticamente o cargo. Caso aconteça antes, haverá a convocação de eleições.

Ao contrário do Brasil do PT, o chavismo na Venezuela nunca governou com um PMDB, não tem um Michel Temer que faça a transição de governo, que faça o malabarismo político. Lá na Venezuela, a oposição que costumava estar dividida e atolada em rivalidades, finalmente conseguiu trabalhar junta no Mesa de Unidade Democrática e todos concordam que a prioridade agora é coletar as assinaturas para a convocação deste referendo.

A situação é cada vez mais calamitosa na Venezuela com o colapso da economia, agravada com a seca, cortes de água e de eletricidade, além de escassez de alimentos. Quebra-quebra e saque de comida tiveram lugar esta semana em Maracaibo, segunda cidade do país e centro da produção de petroleo, que deixou de ser a galinha dos ovos do chavismo, com a queda dos preços globais.

Para 2016, a projeção de contração econômica na Venezuela é de 8%,o dobro da brasileira. De novo, nada disso serve de consolo para o Brasil, mas a Venezuela está realmente nas trevas.

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