Peronismo pode atuar com revanchismo e tornar Argentina ingovernável

  • Por Caio Blinder/ JP Nova Iorque
  • 28/11/2015 16h02
EFE Candidato governista à presidência da Argentina

Os dois grandes paises sul americanos, Brasil e Argentina, vão levar sei lá quanto tempo para sair do seu lodaçal político e econômico. A Argentina pelo menos teve uma notícia positiva com a vitória de Mauricio Macri nas eleições presidenciais, derrotando o peronismo.

A celebração é justa, mas melhor conter o entusiasmo. Como o PT, o peronismo é terrível no poder. Na oposição, é selvagem. O movimento iniciado pelo general Juan Domingo Perón perde batalhas, mas se recusa a perder a guerra. Sem ideologia definida, há 70 anos se recicla e se regenera para regressar ao centro do palco após cada revés.

Um texto do jornal espanhol El País tem dados interesssantes. Desde que a Argentina recuperou a democracia há 32 anos, os peronistas perderam três vezes, a última no domingo com Daniel Scioli. Nos dois casos anteriores, os governantes não conseguiram terminar os mandatos.

Será o mesmo com Macri? Provável, se depender de Cristina Kirchner, que deixará a Casa Rosada no próximo dia 10. Quem não pensa ou governa como os peronistas não é uma alternativa legítima. Existe o risco de que o kirchnerismo recupere o velho molde de resistência feroz de Perón quando não estava no poder.

É verdade que o peronismo enfrentou governos fraudulentos e ditaduras militares quando estava na oposicão, mas este padrão de oposição não faz sentido contra um governo eleito democraticamente no século 21.

Com apoio de sindicatos e maioria no Congresso, o peronismo, no entanto, pode atuar com pique de revanchismo e não de uma oposição construtiva, tornando o país ingovernável.

Que não se concretize o sonho de Cristina Kirchner, como o de Lula, de retornar ao poder nas eleições argentinas de 2019. Para alcançar esta meta, ela precisa ter um governo débil e figuras dentro do peronismo que não a ameacem. No caso de Macri, vamos ver e desejar boa sorte. No caso do peronismo, que surjam lideranças que aceitem com naturalidade o jogo democrático. Que Cristina seja traída, pois como se diz em Buenos Aires, o peronismo aceita a traição, mas não a derrota.

Cabe ao Brasil vivendo sua própria aflição, acompanhar com atenção o que se passa no país vizinho.

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