Quando os republicanos vão traçar uma linha vermelha para Trump?

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 09/02/2017 07h28
EFE Donald Trump - EFE

Donald Trump é o pirata que tomou de assalto o Partido Republicano. A rigor, ele lidera o PT, o Partido do Trump. Mas, os reféns até agora não se insurgiram contra o corsário. Pelo contrário. Um estudo mostra que 212 dos 240 deputados da maioria republicana na Câmara estão integralmente com o novo presidente.

Existe mais inquietação no Senado republicano, especialmente com a promíscua admiração que Trump nutre por Vladimir Putin e o amadorismo de sua gestão. O presidente, porém, não tem motivos para insultar ou tuitar contra suas excelências republicanas.

E, de fato, muito da agenda do iconoclasta Trump está alinhada com a dos republicanos em menos impostos aos ricos, desprezo por mudanças climáticas e ofensiva contra a regulamentação. Sem falar, é claro, do triunfo histórico que será emplacar um ou mais conservadores jovens na Corte Suprema no governo Trump, consolidando a hegemonia conservadora por décadas, pois o cargo é vitalício.

A questão é se Trump é benéfico para os interesses a longo prazo do conservadorismo. O embrião do PT (Partido de Trump) está ai, com sua mentalidade autoritária, pendor por ordens executivas e uma postura que podemos definir como etnonacionalista, com pitadas racistas e islamofóbicas, para a delícia do núcleo duro de eleitores do presidente.

A liderança republicana decidiu fazer um pacto com o diabo e no máximo vemos no Senado alguns luminares como John McCain encararem Trump caso a caso. Gente como Paul Ryan, presidente da Câmara, calculou ser melhor surfar na onda populista do PT do presidente, na expectativa de que baixe. Para esta gente, Trump representa uma oportunidade histórica de aprovação de uma agenda conservadora, embora represente uma mancha moral.

Aqui vai a pergunta: quando os republicanos vão traçar uma linha vermelha para Trump? É muito cedo para determinar, mas não para considerar o seguinte ponto: a teoria de governo de Trump pode se constituir em uma séria e direta ameaça às instituições. Para Trump, líderes legislativos, como Ryan, são corruptos, venais e desprovidos de espinhas dorsal. Para Trump, o Judiciário age com má fé quando toma decisões contrárias a ele. Para Trump, não existe o filtro das instituições, apenas o canal direto entre o líder e o povo. E apenas o líder sabe interpretar os desejos e interesses do povo.

Por ora, com sua falta de espinha dorsal, o Congresso republicano corresponde às expectativas de Trump. Já o Judiciário confirma a robustez da democracia americana, traçando a linha vermelha contra o agente laranja.

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