A Síria é um flagrante fracasso do Ocidente

  • Por Caio Blinder/Jovem Pan Nova Iorque
  • 16/12/2016 07h39

Vítimas de bombardeio são atendidas em hospital na Síria

EFE Vítimas de bombardeio são atendidas em hospital na Síria

Não há muito para falar sobre o inferno sírio. Existe uma fadiga de análises e também uma fadiga de compaixão. Imagens desoladas se sucedem momento a momento e qual é o impacto? Não vemos manifestações em massa nas capitais mundiais pelos refugiados sírios. Pelo contrário: as vítimas são vítimas de indiferença, hostilidade e escárnio.

Está aí Donald Trump, o presidente-eleito dos EUA, incapaz sequer de algumas palavras protocolares de solidariedade. Os refugiados sírios são, no seu linguajar, os losers, os perdedores. Um grande vencedor da tragédia síria claro é Vladimir Putin, com a sobrevida do seu até agora protegido Bashar Assad na guerra civil. A Síria é um flagrante fracasso do Ocidente, que cedeu o espaço para Putin.

Aleppo era o último centro urbano nas mãos dos rebeldes. Há muito deixou de ser uma capital de esperança de um movimento cívico para derrubar a ditadura genocida de Bashar Assad. A luta armada contra a ditadura hoje basicamente é travada por grupos com gradações de barbárie, algo em comum com as tropas e as milícias pró-Assad.

Diante da indiferença e impotência da comunidade internacional, Assad e sua curriola estão em uma posição mais forte. E vamos ser pessimistas. O que vem adiante promete ser muito atroz. O cessar-fogo em Aleppo, negociado com fins humanitários, é continuamente violado e as forças governamentais são acusadas de execuções, detenções e sequestros de civis.

E, obviamente, a queda de Aleppo não vai significar o fim da guerra civil, embora seja uma vitória estratégica para Assad e companhia. O ditador ainda se acha em condições de retomar todo o país, o Estado Islâmico reina em uma grande área, de população esparsa, no leste da Síria, e outras forças rebeldes controlam bolsões, inclusive nos subúrbios de Damasco. Forças turcas e curdas têm seus próprios enclaves. Aleppo pode ser repetir.

A tragédia em Aleppo permite alguns paralelos com Srebrenica, onde sete mil muçulmanos foram assassinados em 1995 em meio à impotência da comunidade internacional. As engrenagens da justiça internacional são lentas.

Somente esta semana, quase 25 anos depois do início da guerra da Bósnia, o tribunal da ONU em Haia para crimes de guerra na Iugoslávia começou a escutar os argumentos finais no julgamento do comandante militar dos sérvios da Bósnia, Rajavan Mladic, indiciado, entre outros crimes, pelo genocídio em Srebrenica. Mladic nega tudo e o veredito vai demorar quem sabe um ano.

Quanto tempo vai levar para vermos o julgamento dos responsáveis pelos crimes de guerra na Síria? A expectativa era a de que tribunais internacionais funcionassem como um dissuasivo. Aleppo comprova a vã esperança.

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