Trump e seu discurso curto, grosso e nada angelical

  • Por Caio Blinder/Jovem Pan
  • 21/01/2017 09h27
EFE Donald Trump - EFE

O agora republicano Donald Trump prestou o juramento presidencial com a mão em duas Bíblias. Uma delas pertencia ao republicano Abraham Lincoln, aquele que na sua primeira posse fez uma exortação pelos “melhores anjos de nossa natureza”. E veio a Guerra Civil. O que virá com Trump?

Seu discurso foi curto e grosso, nada angelical. Houve as palavras de praxe, simbólicas, com a conclamação por união nacional, mas mesmo aqui o tom foi belicoso: “Todos nós sangramos o sangue vermelho dos patriotas”. E tudo isso de alguém que nunca viu combate na vida.

Foi um discurso combativo e de tom sombrio, com as promessas de regeneração. Trump promete tanto, promete acabar com a “carnificina” nacional. Mas, que carnificina? O país tem sérios problemas, mas não é uma Síria, não é uma distopia. Existe um crescimento econômico sistemático, embora não exuberante, a taxa de desemprego está abaixo de 5%  e o crime está em declínio há uma geração. É o Deus-Nos-Acuda na visão de Trump e obviamente somente ele pode salvar a pátria.

Quem gosta de Trump, aqueles que ele define como “homens e mulheres esquecidos”, gostou, mas e a maioria dos americanos que desgostam ou odeiam o novo comandante-chefe? Ele assumiu na posse um compromisso intransigente de colocar a America First, um slogan que me incomoda, pois era usado antes da Segunda Guerra Mundial por isolacionistas como o herói aviador Charles Lindbergh, contrários à intervenção americana ao lado dos britânicos contra os nazistas. Com Trump, a América abdica de suas responsabilidades de líder das democracias e do livre comércio.

Trump é direto e simplório nas suas promessas. Não surpreeendeu na posse que tenha revisitado os temas fulminantes da campanha como populismo, protecionismo e nacionalismo acima de tudo. Numa das frases iniciais de efeito no discurso de 16 minutos, ele disparou contra o establishment, dizendo que o poder estava sendo transferido de Washington para o povo.

A ascensão de Trump ao poder é marcada por seu esforço agressivo (o que eu até entendo) para consolidar sua legitimidade. Afinal, ele perdeu no voto popular para Hillary Clinton e sua atual taxa de aprovação é e mais baixa de um recém -chegado ao poder em 40 anos. A ascensão de Trump tambem é marcada por protestos, alguns violentos e basicamente estúpidos. E para este sábado está marcada uma grande marcha de mulheres em Washington. Trump desafia, mas também é desafiado.

Trump se mostra incapaz de cicatrizar as feridas e uma parcela da população americana esta avessa à conciliação com um presidente que foge ao padrão, afinado com o Sinatra de “my way”. Trump obviamente não criou as divisões nacionais, mas ele as aprofundou. O novo presidente americano não nos remete aos “melhores anjos da nossa natureza”, mas basicamente a uma realidade que promete ser ingrata e politicamente brutal.

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