Trump e sua guerra contra fatos e números

  • Por Caio Blinder/Jovem Pan
  • 26/01/2017 05h58
EFE Donald Trump - EFE

Donald Trump trava uma guerra alucinante contra fatos e números. Nada disso impediu sua eleição. E agora, dias depois da posse, esta alucinação é uma distração fenomenal, que serviu ao menos para que já fosse cunhada uma das expressões do ano: fatos alternativos.

Trump não aceita os números e imagens, evidenciando que sua posse foi menos concorrida do que a de Barack Obama em 2009; contra o bom senso e alertas de alguns assessores, ele insiste em tuitar que Hillary Clinton recebeu milhões de votos fraudados e vai por aí.

Fatos e números são negociáveis para o ex-apresentador de reality show e magnata imobiliário (a Trump Tower tem 58 andares, mas ele declara 68). Como acompanhar a saga Trump do ângulo jornalístico?

Um caso flagrante que me horroriza pessolmente foi a declaração de Trump na campanha de que quando o World Trade Center foi atacado em 11 de setembro de 2001, “milhares de pessoas celebraram” a queda das torres em Jersey City, do outro lado do rio Hudson. Mentira, não é verdade? No entanto, eu relato aqui o processo decisório da NPR, a rádio pública americana, para não qualificar Trump de mentiroso ontem ou hoje e provavelmente amanhã.

A repórter Mary Louise Kelly acompanha o presidente Trump e justifica desta maneira não chamá-lo de mentiroso. Ela foi ao dicionário Oxford em busca da definição da palavra mentira. No ar, ela disse que se trata de “uma falsa declaração com a intenção de enganar”.

A palavra chave é intenção. E sem a capacidade de penetrar na mente de Donald Trump, a repórter argumenta que não dá para saber qual é sua intenção. E aqui eu acrescento: por esta lógica, quem sabe Trump realmente acredite nos fatos alternativos.

Outras organizações jornalísticas como o New York Times têm postura diferente. O jornal usou a palavra “mentira” em uma manchete quando Trump repetiu a alegação de que milhões de votos de imigrantes ilegais o impediram de derrotar Hillary Clinton no voto popular. E vamos lembrar que Trump está na Casa Branca por ter vencido no Colégio Eleitoral.

Em comum com o New York Times, a rádio NPR reporta não existirem evidências de generalizada fraude eleitoral no ano passado. O ouvinte pode julgar se a rádio se comporta com a melhor das intenções ao não qualificar Trump de mentiroso-chefe.

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