Trump está cheio de admiradores no Oriente Médio

  • Por Caio Blinder/Jovem Pan Nova Iorque
  • 17/11/2016 07h20
PFX3cNUEVA YORK (ESTADOS UNIDOS) 08/11/2016.- El candidato republicano, Donald Trump, saluda a sus simpatizantes después de votar en la ciudad de Nueva York en las elecciones presidenciales que se celebran en Estados Unidos, hoy, 8 de noviembre de 2016. Los estadounidenses eligen hoy a su próximo presidente entre la demócrata Hillary Clinton y el republicano Donald Trump. Clinton, ex secretaria de Estado y ex primera dama, parte en estos comicios con una ventaja de 3,2 puntos porcentuales frente al polémico magnate neoyorquino Donald Trump, según la media ponderada de encuestas que realiza la web Real Clear Politics. EFE/Peter Foley EFE/Peter Foley Donald Trump após votar em Nova Iorque

Passado o choque eleitoral americano, pelo menos para mim, várias coisas se revelam pouco chocantes, especialmente no Oriente Médio. Natural, por exemplo, o genocida Bashar Assad considerar Donald Trump um “aliado natural”.

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Afinal, o presidente eleito dos EUA acredita que o ditador sírio com a mão forte e os aviões de Vladimir Putin possa pacificar um país dilacerado. Sabemos que Bashar Assad é adepto da paz dos cemitérios, mas as sutilezas semânticas e as demais não são o território de Donald Trump.

Trump chega após 16 anos de americanices atrozes no Oriente Médio, com os governos Bush e Obama. O primeiro com a intervenção atabalhoada e o segundo com o desengajamento desastroso. O ignorante Bush achou que iria salvar a região, mandando as tropas e impondo democracia, enquanto o cerebral Obama errou no cálculo que bastava retirar as tropas e fazer uma média com o Irã para conseguir estabilidade regional.

O incêndio se alastrou no Oriente Médio. A questão é se Trump vai jogar mais gasolina na fogueira dando carta branca para Putin e Assad, sem falar de sua promessa de renegar o acordo nuclear com o Irã, tão ambicionado pelo governo Obama, o que pode acelerar os planos do regime xiita para fabricar a bomba.

Há uma linha de continudade entre Obama e Trump na obsessão para derrotar o Estado Islâmico no território que eu chamo de Siraque (Síria + Iraque). A diferença, como eu já mencionei, estará na disposição de Trump fazer isso sem escrúpulos, ou seja, com ajuda de Putin e preservando o genocida Assad no poder.

Na verdade, Trump está cheio de admiradores no Oriente Médio. E, como lembra David Gardner em texto no jornal Financial Times, tanta admiração apesar de uma campanha eleitoral pródiga para estigmatizar muçulmanos e da flagrante tolerância com antissemitismo.

No antro de ditaduras e tribalismos do Oriente Médio, não existe desconforto com a chegada ao poder em Washington de um tipo à vontade com a chamada democracia iliberal e campeão do populismo nacionalista.

O presidente eleito vai conviver muito bem com homens-fortes ao estilo Abdel Fattah al-Sisi, que tomou o poder no Egito com a degringolada da Primavera Árabe. Outra figura que se encaixa no universo Trump é o quase ditador turco Recip Erdogan. O presidente eleito já reclamou do excesso de críticas a Erdogan, depois dos expurgos e prisões em escala industrial que ele emprendeu no país na sequência da tentativa de golpe em julho.

O governo Obama nunca deu muito bola para direitos humanos, apesar de sua reputação equivocada nos chamados setores progressistas. Trump é pior ainda. Ele é simplesmente indiferente. Ditadores do mundo, o homem mais poderoso do mundo dá carta branca a vocês, desde que não interfiram nos negócios americanos.

E há Israel. Na eleição da semana passada, 2/3 dos judeus americanos votaram em Hillary Clinton, mas o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e a direitona dos assentamentos judeus na Cisjordânia abominam Obama e torceram por Trump. Com o novo governo em Washington, nem haverá mais necessidade de fingir empenho no processo de paz para a criação de um estado palestino.

Para a extrema direita de Israel, o desinteresse de Trump na questão palestina e a promessa de transferir a embaixada americana de Tel Aviv para Jerusalém contam mais do que o flerte do movimento que o alçou ao poder com o antissemitismo.

Como se vê, Trump até que está em casa no Oriente Médio.

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