Trump x Assad: quem venceu e quem vencerá no final?

  • Por Caio Blinder/Jovem Pan Nova Iorque
  • 10/04/2017 07h58
Reprodução/ Youtube/Syrian Presidency Presidente Sírio Bashar Al-Assad deu entrevista à TV oficial do País

Bashar Assad está naquela galeria de líderes históricos que usaram gás contra civis. Está na companhia de Hitler e de Saddam Hussein. Um horror, né? Mas não é fácil passar da indignação para a ação. Felizmente havia um ótimo frasista na Segunda Guerra Mundial chamado Churchill que disse: “Se Hitler invadisse o inferno, eu faria uma referência favorável ao diabo na Câmara dos Comuns”. Sabemos que sir Winston fez muito mais.

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Pouco foi feito contra Saddam quando ele soltou o gás contra os curdos. Na época, os anos 80, ele era visto pelo Ocidente como o diabo útil em guerra contra o Irã dos aiatolás. Ironicamente, Saddam encontrou o seu fim 20 anos mais tarde em razão das imaginárias armas de destruição em massa, desculpa para a invasão do Iraque por George W. Bush.

Barack Obama, o sucessor de Bush, nunca foi um Churchill, exceto no dom da oratória. Bashar Assad usou armas químicas contra civis em 2013 e o presidente americano deixou para lá, embora tenha demarcado a tal da linha vermelha.

Na semana passada, o seu sucessor, Donald Trump, que insulta para diabo, não deixou passar e disparou alguns mísseis contra Assad depois que ele novamente soltou gás contra civis.

Em mais uma estranha aliança, no repúdio à ação de Trump, foi montada uma turma do diabo: Vladimir Putin, os aiatolás, o Hezbollah, a barata atômica norte-coreana, Marine Le Pen e o submundo conspiratório da direita alternativa americana. No entanto, o coro de apoio a Trump pode se evaporar rapidamente diante da ausência de uma estratégia coerente do governo americano na Síria.

Com os mísseis disparados contra uma base militar síria (novamente operacional), os EUA agora bombardearam dois atores na guerra civil síria, o regime de Assad e o Estado Islâmico. Se ambos são inaceitáveis para os EUA, qual o desfecho desejado? A mensagem de Trump, como de hábito, é confusa e improvisada.

Até agora, em comum com Obama, Trump buscou limitar o envolvimento americano na Síria, mas pode ser sugado pelas areias movediças. Obama da boca para fora pedia a saída de Assad, mas em 2014, os americanos começaram a bombardear as posições do Estado Islâmico, atuando de certa forma como a Força Aérea da ditadura síria. A Força Aêrea de Assad e a dos russos sempre se ocupou mais dos outros rebeldes e obviamente dos civis.

O plano quixotesco de Obama era derrotar o Estado Islâmico no campo de batalha e buscar uma solução negociada com Assad. Contra o Estado Islâmico, há progressos. No campo diplomático, nada. Assad está entrincheirado no seu enclave de poder e ironicamente alguns sinais do governo Trump de que ele seria tolerado devem ter contribuído para o ditador genocida se sentir à vontade e lançar um novo ataque com armas químicas.

Esta conversa vai longe. Precisamos esperar um pouco de definição e precisão nos objetivos do governo Trump (uma expectativa sempre ingrata). Ironia final: a curtíssimo prazo, Trump venceu (ele sempre se cansa de vencer, né?), mas a longo prazo a dinâmica do conflito pode favorecer Assad, que não será tão cedo abandonado pelos comparsas russos e iranianos.

Uma crise dos diabos.

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