Lula e a Presidência como alternativa ao cárcere

  • Por Jovem Pan
  • 26/04/2017 10h38
BRA84. SAO PAULO (BRASIL), 20/09/2016.- Fotografía de archivo del 28 de marzo de 2016 del expresidente de Brasil Luiz Inácio Lula da Silva en Sao Paulo. El juez responsable por la investigación del gigantesco escándalo de desvíos en la petrolera brasileña Petrobras aceptó hoy, 20 de septiembre de 2016, los cargos por corrupción y lavado de dinero formulados contra Lula da Silva y lo convirtió por primera vez en reo en el histórico proceso. El juez federal Sergio Moro aceptó la denuncia formal presentada la semana pasada por la Fiscalía contra Lula, a quien acusa de haber recibido favores de una de las empresas beneficiadas por los desvíos en la petrolera estatal, según la decisión divulgada por su juzgado. EFE/Sebastião Moreira EFE/Sebastião Moreira Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - EFE

Presidente eleito e reeleito, que depois elegeu e reelegeu (junto com Marcelo Odebrecht) Dilma Rousseff, Lula jamais arriscaria sua reputação eleitoral – e sua carreira de palestrante – não fosse a Lava-Jato. Não houvesse tudo o que se revela contra si (e a rápida multiplicação de sua condição de réu), estaria mesmo disposto a sacrificar o PT, desprovido de opções que não ele, e deixar que o partido minguasse sem candidato ou com um haddad qualquer. Lula sabe que pode perder em 2018, que é até provável que perca; mas sabe também que sua peleja, a esta altura, é mais política, de construção de narrativa política, do que eleitoral.

Murado pelas revelações de Léo Pinheiro – que equivalem a títulos de propriedade – e apostando em que a ameaçada delação de Palocci não passe de chantagem para que não o deixem ser o Dirceu da vez, Lula vai à luta. O reforço da agenda no Nordeste – onde apareceu vestido de Fidel Castro – é sintomático. Ele sabe que precisa, para sobreviver politicamente, apresentar-se à disputa; ser uma peça real no tabuleiro de 2018 – para acusar os adversários de golpe caso subtraído do jogo. Não é à toa que – chancelado pelo silêncio do TSE – está em campanha. Contra as especulações diárias de que será preso a qualquer momento, corre para encerar a cara de vítima, de cuja boca, se pego, desenrolará a ladainha de que as forças conservadoras não lhe permitiram se defender nas urnas.

Paralelamente à construção da narrativa de perseguido pelas elites, faz imensa fé na lentidão dos processos judiciais. Desarticulada de vez pela delação do ex-presidente da OAS, sua defesa trabalha exclusivamente por procrastinar o andamento das ações que o enredam. Se não é improvável que Lula seja condenado em primeira instância ainda neste ano, apostam os seus em que conseguirá chegar ao período eleitoral sem condenação em segunda instância – aquela que o impediria de se candidatar. É minha aposta também.

Uma vez formalmente candidato, chefe de um projeto de poder sem precedentes, que capturou o Estado para os interesses político-econômicos de um partido, será, portanto, o maior beneficiário do discurso corrente que iguala crimes e criminosos – e não terá dificuldade em reunir seus tradicionais 25%, talvez até 30%, capazes de o colocarem no segundo turno. Não é posição de alguém a ser subestimado. Dificilmente, contudo, irá além. É fortemente rejeitado – indicativo de pouca força para aglutinar.

Se, porém, voltar à Presidência, será a primeira vez na história deste país que o mais alto cargo da República foi conquistado como alternativa ao cárcere.

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