Lula já sofre humilhação maior que o 7 x 1

  • Por Felipe Moura Brasil/Jovem Pan
  • 07/03/2018 09h09 - Atualizado em 07/03/2018 10h32
EFE/Paulo Fonseca 9 x 0: Esse é o placar agregado dos três julgamentos, somando a decisão de Sergio Moro em primeira instância, os votos dos três desembargadores do TRF-4 em segunda instância e os dos cinco ministros do STJ

Lula foi goleado pela Justiça por 9 a 0.

Esse é o placar agregado dos três julgamentos, somando a decisão de Sergio Moro em primeira instância, os votos dos três desembargadores do TRF-4 em segunda instância e os dos cinco ministros do STJ que negaram o pedido de habeas corpus do petista.

Ou seja, já é uma humilhação pior que o 7 a 1 da derrota do Brasil para a Alemanha na Copa de 2014. Nem com o reforço do advogado Sepúlveda Pertence, a defesa de Lula conseguiu fazer um golzinho de honra, como fez Oscar naquela partida.

Mais do que nunca, Lula aposta então todas as suas fichas no STF, que, mesmo se vier a conceder em plenário um habeas corpus ao petista, ou se derrubar a possibilidade de prisão após condenação em segunda instância para salvá-lo da cadeia, não conseguirá reverter o placar numérico, tornando ainda mais vexaminosa a manobra de encomenda.

O 9 a 0 contra Lula deveria constranger até a ala lulista do Supremo, capitaneada por Ricardo Lewandowski, a manter a decisão das demais instâncias, sem alterar a jurisprudência estabelecida pelo próprio STF em outubro de 2016.

Lula terá sido preso pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, exaustivamente provados e detalhados em nove decisões e votos escritos e orais.

Nessas condições, a prisão de um ex-presidente da República resulta, em tese, na mais poderosa força dissuasiva alcançada pela Lava Jato para a corrupção no Brasil.

O instituto da delação premiada já era uma força dissuasiva para o corrupto em potencial fazer articulações criminosas. Porque hoje ele sabe que seu comparsa, não sendo figura honesta, pode estar metido em outras articulações criminosas, e mesmo que o corrupto em potencial julgue que a dele inclui o plano perfeito e pode ser acobertada e eles não vão ser pegos, o comparsa pode estar envolvido em outra, pela qual pode ser pego e acabar virando um delator que o delate.

Com a prisão de um ex-presidente, uma figura de enorme influência, que teve imenso poder, o corrupto que tinha uma sensação de onipotência, de que permaneceria impune para sempre, agora poderá lembrar ou ser lembrado de que“olha, até o Lula, até o ex-presidente já foi preso, por que você não seria?”

O Brasil nunca vai se livrar de gente sem escrúpulos, mas da falta de escrúpulos ao cometimento de crimes vai um passo que a Lava Jato tornou mais arriscado.

A evolução dos mecanismos de tecnologia e investigação combinada com a atuação independente de setores do Judiciário obriga os corruptos a serem muito mais cuidadosos.

O ministro Luís Roberto Barroso pediu a quebra de sigilo bancário de Michel Temer, mas, na hipótese de que o presidente tenha levado dinheiro sujo, é improvável que ele o tenha depositado em sua conta corrente, em razão justamente desse cuidado.

Rodrigo Rocha Loures, intermediário de Temer com Joesley Batista, foi flagrado recebendo mala com 500 mil reais de propina, porque aquele dinheiro não podia ser simplesmente transferido para uma conta corrente.

A fortuna de 51 milhões de reais associados a Geddel Vieira Lima tampouco foi encontrada em conta, mas em malas de dinheiro dentro de um apartamento em Salvador. Loures e Geddel seguem calados sobre os eventuais destinatários ou coproprietários desses valores, mas são caixas pretas vivas que seus comparsas precisam monitorar para evitar delações.

Quanto mais interceptações telefônicas vêm à tona, quanto mais mensagens de e-mail e whatsapp são usadas como provas, mesmo que contenham linguagem cifrada, mais medo o corrupto tem de se comunicar por essas vias, o que o obriga a ter encontros ao vivo, nos quais os celulares têm de ser vetados, mas, ainda nesses casos, fica o receio de haver gravadores ou câmeras escondidas.

Ou seja: felizmente, está cada vez mais difícil não deixar rastros. O que o Brasil precisa agora é evitar dar poder político a criminosos que possam nomear, indicar e infiltrar seus comparsas em todas as esferas de poder para que a corrupção possa correr solta, como nos governos petistas.

Que o 9 a 0 contra Lula não seja em vão.

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