Ai daquele que tocar em dom Paulo Evaristo Arns

  • Por Jovem Pan
  • 15/12/2016 12h44
Brasil, São Paulo, SP, 31/10/1975. Missa de sétimo dia do jornalista Vladimir Herzog, na Catedral da Sé, região central de São Paulo. Negativo: 75722 - Crédito:ARQUIVO/ESTADÃO CONTEÚDO/AE/Código imagem:160967 Estadão Conteúdo/Arquivo AE - Missa de sétimo dia do jornalista Vladimir Herzog

A figura de Paulo Evaristo Arns, além de muito querida, sempre foi muito presente na Jovem Pan devido à programação religiosa da rádio na sexta-feira da Paixão.

E era um tempo duro o do militarismo.

O diretor Antonio Augusto Amaral de Carvalho, o seo Tuta, colocava o repórter Milton Parron em uma peregrinação pelo País colhendo palavra de todos os cardeais sobre a paixão de Cristo.

Todos esses atos eram submetidos à censura.

As palestras dadas por dom Helder Câmara nunca foram ao ar, a não ser a primeira, em que ele comenta o filme 2001, uma Odisseia no Espaço, e cita a última cena do clássico: “o mistério continua”.

Já Dom Paulo abria a programação especial da Jovem Pan e, em determinado dia, fez uma palestra voltada para a periferia. Era um tempo em que os pastores e os religiosos tinham alguma possibilidade de falar.

A Igreja Católica sempre foi criticada por se aliar ao poder, mas Leão XII, com a Rerum Novarum, fez dura crítica à sociedade industrial do séc XIX, e depois, a encíclica de Pio XI, com crítica ao socialismo, e João XXIII instituindo o ecumenismo.

No assassinato do jornalista Vladimir Herzog, a imprensa ficou chocada. A notícia de que ele teria se suicidado chegou e nada podia ser disso. A Jovem Pan ficou um minuto fora do ar em uma espécie de silêncio, de protesto, pela notícia que não podia ser dada

O jornal O Estado de S. Paulo estampava trechos de Os Lusíadas nas partes cortadas pela Ditadura.

Aquela missa fantástica por Vladimir Herzog, organizada por Evaristo Arns, maravilhosa, ecumênica, primeiro protesto da sociedade brasileira contra o silêncio que imperava e contra a estrutura militar que tomava conta da Pátria.

As manchetes dos jornais no dia seguinte recordavam texto bíblico: “ai daquele que tocar nos meus ungidos” e parafraseavam, “ai daquele que tocar no homem”.

Relembre também o obituário Jovem Pan com os principais trechos e legados da história do arcebispo emérito:

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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