Quem controla a corrupção não é a forma de financiamento, mas o limite de gastos de campanhas

  • Por Rachel Sheherazade/ JP
  • 29/05/2015 12h48

Presidente da Câmara Antonio Cruz/Agência Brasil Eduardo Cunha

Quem ostentava como “troféu” a derrota de Eduardo Cunha na votação da reforma política acabou caindo do cavalo. O presidente da Câmara deu a volta por cima e conseguiu o que queria: demonstrar poder de fogo e aprovar o financiamento privado de empresas para partidos.

Cunha não se conformou com seu primeiro fracasso no Plenário e pôs em votação novamente a questão da doação de empresas, apresentando uma nova proposta que aguardava votação.

Com a manobra inesperada, o presidente da Câmara acabou se antecipando à decisão do STF que debate o mesmo assunto desde 2013. Mudando a Constituição através de Emenda, esvazia-se a discussão sobre o financiamento privado no Judiciário.

Não sou favorável ao financiamento exclusivamente público nem simpatizante do financiamento privado, tampouco confio na lisura do auto financiamento de partidos e políticos. Em todas as possibilidades há prós e contras. Em qualquer das hipóteses há brechas para a corrupção entrar.

O financiamento privado pode ser, sim, um acordo tácito entre empresas e políticos para favorecer os interesses de quem patrocina a eleição. O manjado “toma-lá-dá-cá”. Afinal, quem doa, pede “recibo”.

Mas, o financiamento público consegue ser ainda mais injusto, imoral, porque impõe ao contribuinte um novo gasto com o sistema político. Não vamos esquecer que é o dinheiro público quem banca as legendas através do fundo partidário e paga o horário eleitoral gratuito que, apesar de não custar nada aos políticos, sai bem caro para os contribuintes.

Além disso, financiamento público não garante a lisura da eleição, pois não exclui a possibilidade de “caixa-dois”, e a clandestinidade pode até estimular doações ilegais, “por baixo do pano”.

No fim das contas, quem controla a corrupção não é a forma de financiamento em si, mas o limite de gastos.

Campanhas políticas não podem ser espetáculos de pirotecnia, onde o marqueteiro mais eficiente – e mais caro – é quem ganha a eleição.

O povo precisa é de informação. Saber quem é e como pensa o candidato, que capacitações ele apresenta para o cargo e quais as suas propostas. Simples assim. Sem efeitos especiais, sem discursos encomendados – mentiras fabricadas sob medida para “fazer o diabo” e vencer a eleição.

Menos gastos, mais fiscalização, mais transparência. O remédio contra a corrupção pode ser mais barato e mais simples do que pregam os nossos políticos.

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