Aumentar juros já não vinha dando certo; a crise é de confiança

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 03/09/2015 10h52
BRASÍLIA,DF,29.10.2014:COPOM-JUROS - Sede do Banco Central em Brasília (DF), nesta quarta-feira (29). A taxa básica de juros da economia (Selic), válida para os próximos 45 dias, será anunciada hoje pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BDC). A reunião que vai definir a Selic, a penúltima do ano, começou ontem (28) à tarde, com apresentações técnicas e discussões sobre a conjuntura econômica. (Foto: Charles Sholl/Futura Press/Folhapress) Charles Sholl/Futura Press/Folhapress Copom banco central

Já não era sem tempo! O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) manteve a taxa Selic em 14,25%. Era o esperado. Agora, é aguardar para ver quando chega Godot, né?, vale dizer: quando a inflação começa a cair de forma consistente. A cada elevação de um ponto — e façam aí a proporção — da taxa, R$ 15 bilhões se somam à dívida pública.

É evidente que o aperto monetário, em regra, é bom remédio para combater a inflação. Quando esta nasce, no entanto, do desrepresamento de preços administrados e dos gastos públicos, o seu efeito é limitado. Até determinado ponto — dada a disseminação da elevação desses preços administrados em quase toda a economia —, pode ter uma eficácia para impedir que a taxa de inflação dispare. A partir de um limite, e acho que este chegou já faz algum tempo, o único efeito da elevação dos juros é mesmo o indesejável crescimento da dívida pública.

Mesmo com os juros nas alturas, o Boletim Focus prevê que o ano de 2015 feche com uma inflação de 9,28%, mais do que o dobro do centro da meta, que é de 4,5%.

É claro que as medidas recessivas tomadas pelo governo não são a causa da melancolia econômica que vivemos, mas a consequência de uma cadeia de irresponsabilidades. O problema é que os remédios, independentemente dos culpados pelos males, podem ou não ter eficácia.

Uma eventual nova elevação dos juros seria absolutamente irrelevante para baixar a inflação e tornaria tudo mais difícil. Aliás, tenho as minhas dúvidas se as duas ou três últimas surtiram algum efeito, que não o negativo. Pareceram-me um caso típico de tentar inculcar confiança no mercado: “Olhem, aqui não brincamos em serviço; sabemos ser duros”.

O problema é quando esse esforço, que é imposto a toda a sociedade — e acarreta, entre outras coisas, desemprego —, pode ser anulado pela mais explícita incompetência e irresponsabilidade políticas, a exemplo do que temos visto nos últimos dias.

É claro que a forte desvalorização do real também é um fator de pressão inflacionária. Vamos ver em que patamar se estabiliza e por quanto tempo. Eis outro elemento que incide no aumento de preços, sem que a elevação da taxa de juros se mostre um remédio eficaz.

A crise, já escrevi aqui dezenas de vezes, é de confiança, filha dileta da crise econômica e da crise política.

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