Banco Santander se desculpa outra vez; veja por quê

  • Por Jovem Pan
  • 01/08/2014 10h31

Reinaldo, quer dizer que o Santander se desculpou de novo?

É, de novo. Pelo visto não vai parar mais. Quando teve início aquele escarcéu estúpido por causa da tal mensagem do Santander enviada a alguns correntistas – informando que os mercados reagiam negativamente à perspectiva de Dilma ser reeleita -, defendi aqui, basta procurar no arquivo da Jovem Pan, o direito que o banco tinha de emitir uma opinião. O resto da história vocês já conhecem. Lula pediu a cabeça da analista e puxou o saco do presidente mundial do banco, Emilio Botín, que prometeu demitir a responsável, o que acabou acontecendo. Antes disso, a instituição já havia tornado público um pedido de desculpas. Nesta quinta, os correntistas receberam uma segunda cartinha. Aí o Santander já se desculpava com os clientes.

Assim como não vi nada demais na primeira carta, lastimo todo o resto da história, incluindo a demissão. O Santander, com a devida vênia, comportou-se de modo patético nessa história. Por mais que esse setor seja bastante dependente dos humores dos poderosos de turno – e é -, há um limite para o ridículo que me parece ter sido ultrapassado com impressionante desassombro.

Dado o barulho que fez o PT, até compreendo que o banco pudesse emitir uma nota pública informando que não se mete em política partidária. Poderia até afirmar que a opinião da analista – ou de um departamento – não refletia o que pensava a instituição, etc. Em suma, havia várias maneiras de amenizar eventuais desconfortos. Mas o que se vê é um espetáculo um tanto grotesco de sabujice. Dá a entender, talvez injustamente, que o banco mantém uma relação de dependência com o poder que não é conhecida pelo conjunto da sociedade.

Esse episódio, acreditem, fez muito mal à cultura da liberdade de política e do livre exercício da opinião. Um texto que era público – afinal, enviado a muitos correntistas – mereceu o tratamento de alguma peça conspiratória, como se pessoas mal-intencionadas atuassem nas sombras para desestabilizar a presidente Dilma.

Quer dizer que o analista de um banco está proibido de informar a seus clientes que, deixem-me ver, comprar ações de empresas públicas num eventual cenário de reeleição de Dilma é um mau negócio? E é mau negócio por quê? Não porque o tal analista não goste do PT. Mas porque ele tem a obrigação de alertar que é próprio da cultura petista usar essas empresas para fazer política, pouco se importando com a economicidade de determinadas escolhas. É o que acontece com a Petrobras, por exemplo. É o que acontece com o setor elétrico.

O comportamento da imprensa brasileira, diga-se, ressalvadas as exceções de sempre, é também lamentável. Mais uma vez, reage de maneira pífia a uma clara agressão ao debate livre de ideias.

Bem, agora falta o quê? Mais um pouco, a direção do Santander vai se chicotear de joelhos na rampa do Palácio do Planalto. Uma pergunta: se eu decidir botar meu dinheiro no Santander, devo confiar no que me disser o analista financeiro ou me cabe intuir que sua opinião passou antes pelo Departamento de Censura Diretório Nacional do PT?

 

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