Cunha inventa o “Terrorismo Orloff”

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 13/07/2016 10h24
Alex Ferreira / Câmara dos Deputados Eduardo Cunha

Correu sem surpresas, embora renda títulos em penca, a sessão da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara (CCJ) que vai decidir se aprova ou não o relatório do deputado Ronaldo Fonseca (PROS-DF), que pede a anulação da votação do Conselho de Ética, que recomenda a cassação do mandato de Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

A maioria dos deputados ainda não falou. Boa parte do tempo foi ocupada pelo advogado de defesa, Marcelo Nobre, que tentou desqualificar a acusação central: Cunha mentiu à CPI ao negar que tenha conta no exterior. É a ladainha de sempre: não é conta, mas dinheiro que está num trust. Então tá.

Aliados do deputado afastado ainda tentaram adiar a sessão. Foram derrotados. Para todos os efeitos, ela será retomada nesta quarta-feira, dia, calculem vocês, da eleição do presidente da Casa, que se anuncia muito mais agitada do que parecia inicialmente. Há evoluções de última hora que não estavam no cardápio de ninguém.

Ou por outra: duvido que aconteça algo de relevante nesta quarta. Há mais de 30 inscritos para falar. Ainda que a maioria seja contra Cunha e que se estime que ele seja derrotado na CCJ, não se deve contar com a possibilidade de um parlamentar perder os holofotes. Os que são anti-Cunha querem seu nome registrado na história.

O acusado também falou. Apontou todas aquelas que considera injustiças contra homem tão honrado e, bem, a seu modo, fez uma espécie de pregação terrorista, que busca convencer pelo medo.

Sites e jornais chamaram a fala de uma ameaça. Não me parece. Cunha buscou mesmo, aí sim, provar que estão todos no mesmo barco. Se ele vai para o buraco, os outros também vão.

O deputado evocou, então, o “efeito Orloff” da política, numa alusão à propaganda de uma vodca que rezava: “Eu sou vocês amanhã”. Segundo o preclaro, se ele for cassado agora, amanhã será a vez de 117 deputados e 30 senadores que estão sob investigação. Ou por outra: “Se vocês me cassarem, estarão cassando a si mesmos; ou vocês me salvam, ou eu seria apenas o primeiro”. Ou dito de outro modo: “Ou vocês garantem a minha impunidade ou entram na fila da guilhotina”.

Insisto: o nome disso não é ameaça, como se escreveu por aí, mas tentativa de convencimento pelo terror. O deputado insistiu em 16 supostas irregularidades havidas no processo que acabou recomendando a sua cassação no Conselho de Ética.

Todas elas dizem respeito apenas a firulas — e esse é o nome — formais. Sim, a forma num processo é importante porquanto ela formata o conteúdo. Ocorre que Cunha usa um suposto formalismo para distorcer a verdade.

Ele não tem resposta mesmo é para a farsa essencial — e notem que nem vou entrar nas demais acusações que há contra ele. Quando negou na CPI da Petrobras, à qual compareceu por vontade própria, que tivesse conta na Suíça, estava negando, de fato, que tivesse dinheiro depositado no exterior. Houvesse boa-fé na negativa, teria havido também na afirmativa: “conta não tenho, mas tenho dinheiro num trust”. Não o fez.

Então ele prefere insistir na farsa de que Marcos Rogério (DEM-RO) não poderia ter sido o relator no Conselho de Ética porque se mudou para um partido que integrara o bloco que o conduziu à Presidência ou que a votação foi viciada.
Mas e a conta na Suíça?

“Ah, é grana num trust, não conta!”

É claro que isso já passou da conta. Que fique a coisa para agosto. Mas que o agosto de Cunha venha.

Chega dessa pantomima!

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