Delcídio confessa à Polícia Federal: “Peidei, mas não fui eu”

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 27/11/2015 12h44
BRASÍLIA, DF, 03.06.2015, 17H00: DELCÍDIO AMARAL - O líder do governo no Senado, Delcídio do Amaral (PT-MS), durante sessão deliberativa no plenário do Senado, em Brasília (DF). (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress) Pedro Ladeira/Folhapress Delcídio Amaral

O cantor, compositor e escritor Lobão tornou célebre uma camiseta em que se lê: “Peidei, mas não fui eu”. Ela traduz à perfeição, e de maneira bem-humorada, os, como posso chamar?, borborigmos petistas que escapolem, que os companheiros confundem com uma ética.

Lobão e a frase na camiseta: síntese da ética petista

Lobão e a frase na camiseta: síntese da ética petista

Como resta claro e evidente, a fedentina toma conta do país, nós conhecemos os autores, mas eles insistem: “Não fui eu”; “Eu não sabia”; “Fui traído”; “Usaram o meu nome em vão” (este último é Lula, que acredita ter sido plagiado por Deus…).

Muito bem! O senador petista Delcídio do Amaral (MS) prestou um depoimento de quatro horas à Polícia Federal, segundo informa seu advogado Maurício Silva Leite. E, como não poderia deixar de ser, confirmou ser sua voz que se ouve naquela impressionante gravação.

Como todos sabemos, Delcídio trata longamente, com detalhes e sugestões, de um plano de fuga para Nestor Cerveró. Edson Ribeiro, então advogado do ex-diretor da Petrobras, também faz alegres digressões a respeito e demonstra a sua expertise na área, afirmando ter retirado antes outras pessoas do país. Uma lindeza.

Mesmo assim, Leite, o advogado do senador, afirmou o óbvio: Delcídio reconhece a voz e o texto, mas se declara inocente. Como pode? Pois é… Bobo, Leite não é. Trata-se de uma tática da defesa, ora essa!

Vamos lá: alguém dizer que pretende derrubar o Empire State Building e efetivamente derrubar o edifício são a mesma coisa? Bem, a resposta, obviamente, é “não”. Trata-se de começar a articular uma linha de defesa.

É bem provável que Leite vá tentar demonstrar que o senador não tomou nenhuma providência para a execução do plano criminoso, que se tratava de meras conjecturas, que o próprio Delcídio acabou se deixando levar pela conversa, pontuada por estímulos dados também por aquele que fazia a gravação: Bernardo Cerveró, filho de Nestor.

Vai colar? Bem, a mim me parece que essa é uma argumentação que já mira lá adiante, a hora da pena. Que Delcídio está lascado, isso está! Que vai ser denunciado ao Conselho de Ética do Senado, parece certo. Que é grande a chance de ser cassado, idem — hipótese em que seu caso iria parar lá na 13ª Vara da Justiça Federal de Curitiba. Seja pelo STF, seja por Sergio Moro, a condenação de Delcídio é fatal. Começou a estratégia de redução de danos.

O advogado diz ainda que seu cliente não ofereceu um mensalão de R$ 50 mil a  Netor Cerveró para que se calasse e não procedesse à delação premiada. Segundo Leite, tudo não passa de um grande equívoco, que vai ser esclarecido nesta sexta.

Ah, sim: em seu depoimento, Delcídio tentou também, segundo dá a entender seu advogado, limpar a sua barra no Supremo. Disse que suas relações com o tribunal são apenas institucionais e que não se encontrou com nenhum dos ministros citados — Teori Zavascki, Dias Toffoli e Gilmar Mendes —, com os quais sugeriu alguma intimidade.

Que situação miserável a da política brasileira, não? Delcídio era considerado, assim, uma espécie de referência do petismo de qualidade. A seu modo, era um Demóstenes Torres com viés de esquerda. Quando as lambanças daquele vieram à luz, até os adversários se surpreenderam. O mesmo se dá com o petista. E é claro que terá o mesmo fim.

Ainda que exista diferença entre falar sobre um plano, arquitetar um plano e executar um plano criminoso, Delcídio e seu advogado sabem que a coisa não custará barato. Eles só tentam pagar o menor preço dentro do possível.

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