Ex-presidente da Odebrecht afirma que Cabral cobrava 5% sobre valor de obras

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 22/06/2016 11h24
Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil Sérgio Cabral - AGBR

Bem, meus caros, como costuma acontecer desde o início da Operação Lava jato — ou, ao menos, desde que tiveram início as delações premiadas —, antes mesmo que o ministro do Supremo Teori Zavascki possa homologar os acordos, seu conteúdo cai no domínio público.

A Folha informou ontem que Marcelo Odebrecht deve dizer que controlou pessoalmente as dações legais e ilegais para as campanhas de Dilma de 2010 e 2014. Mais: num encontro no México com a presidente, agora afastada, alerto-a de que a Lava-Jato estava chegando perto do pagamento ilegal que havia sido feito a João Santana. A “autômata” teria dado de ombros e feito de conta de que não era com ela. Nesta quarta, outra bomba.

Segundo informam Marina Dias e Bela Megale, na Folha, Benedito Barbosa da Silva Júnior, ex-diretor presidente da construtora Odebrecht, disse, nas tratativas de seu acordo de delação premiada, que Sérgio Cabral, ex-governador do Rio, cobrava imodestos 5% sobre obras que eram feitas no Estado, sob responsabilidade do governo.

Cabral teria obtido vantagens em obras como Maracanã, Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro) e linha 4 do metrô — só nesse caso, teria sido um capilé de R$ 2,5 milhões. Não custa lembrar: o estádio, orçado em R$ 720 milhões, saiu por R$ 1,2 bilhão.

O possível relato da Odebrecht coincide com a delação de Rogério Nora de Sá e Clóvis Peixoto Primo, da Andrade Gutierrez, que afirmaram à Força-Tarefa que Cabral exigiu 5% do valor total do contrato para permitir que a empresa se associasse à Odebrecht e à Delta no consórcio para a reforma do Maracanã.

Ouvido pela reportagem, Cabral deu a resposta que os acusados costumam dar nesses casos: manteve relações apenas institucionais com as empreiteiras.

Pois é… Considerando que a informação divulgada pela Folha vá coincidir mesmo com o depoimento de Benedito Barbosa, fico cá me perguntando o que levaria o presidente de uma empreiteira e dois altos diretores de outra a mentir — especialmente quando tal mentira também os incrimina, ainda que os prêmios pelas delações pagos pelo Ministério Público sejam altíssimos.

Dizer o quê? Que se investigue tudo, não é mesmo? Cabral e as empreiteiras nunca tiveram uma relação que primasse, digamos assim, pela ortodoxia.

Até o concreto armado sabe que o agora ex-governador não era do tipo que mantinha relações convencionais com empreiteiros. Lembram-se da CPI do Cachoeira? O PT a instalou porque julgava que poderia, com ela, atingir a oposição e a imprensa.

Eis que a investigação foi bater na construtora Delta, de Fernando Cavendish, uma das gigantes do Minha Casa Minha Vida e empresa preferencial de Cabral para obras sem licitação. Vejam estas fotos.
Foram divulgadas por Anthony Garotinho, hoje desafeto de Cabral, é verdade, mas ele não as inventou. São de 2009. Cabral e sua turma estão em Paris. Na primeira, ao centro, o então governador em um momento de descontração — parece uma coreografia de funk. À direita, de gravata bordô, está Cavendish, o dono da Delta.

Na segunda foto, veem-se os secretários de Cabral Sérgio Côrtes (Saúde), e Carlos Wilson (de Governo). Todos ali fazem papel ridículo no luxuoso hotel Ritz, em Paris. Aquele já com a fralda (a da camisa) fora da calça é Cavendish. Segundo se noticiou, estavam em Paris para comemorar o aniversário da então primeira-dama, Adriana Anselmo.

Paris era uma festa. O Rio era uma festa. Um ano depois, Cabral se reelegeu sem grande dificuldade e passou a ser considerado um promissor candidato a vice de Dilma em 2014. Foi tragado pelos protestos de 2013 e do ano seguinte. Não se candidatou nem a senador. Sete anos depois daqueles dias loucos de Paris, o Rio de Cabral decretou estado de calamidade.

Vamos ver se o ex-presidente da construtora Odebrecht vai mesmo confirmar o que agora se informa. Que a coisa parece fazer sentido, vamos convir, isso parece…

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