Força-tarefa tenta desmentir matéria da Folha, mas acaba por endossá-la

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 20/09/2016 13h06
BRA09. CURITIBA (BRASIL), 14/09/2016.- El fiscal Deltan Dellagnol ofrece una rueda de prensa hoy, miércoles 14 de septiembre de 2016, en Curitiba (Brasil). Dallagnol, responsable del caso Petrobras, acusó hoy al expresidente brasileño Luiz Inácio Lula da Silva de ser el "comandante máximo" de la red de corrupción en la petrolera estatal, que movió miles de millones de dólares. EFE/Geraldo Bubniak EFE/Geraldo Bubniak Deltan Dallagnol oferece denúncia contra Lula em Curitiba - EFE

A maior besteira que Rodrigo Janot fez até agora — SEM EXPLICAR POR QUÊ — foi ter mandado para a lata de lixo, na forma de papel picado, a delação do empreiteiro Léo Pinheiro. A coisa vai render ainda muita dor de cabeça. E o episódio está agora no centro de um imbróglio. A quantidade de bobagens que vigaristas dos mais diferentes matizes dizem a respeito é monumental. Então vamos lá.

A força-tarefa da Operação Lava Jato divulgou uma nota nesta segunda em que nega que tenha usado na denúncia contra Lula informações de um pré-acordo de delação premiada do empreiteiro Léo Pinheiro, que acabou rejeitada pela Procuradoria-Geral da República. Se isso aconteceu, o uso dessas informações é ilegal. A reportagem foi publicada pela Folha no domingo.

Na nota, os procuradores classificam a conclusão da reportagem de “falsa”. Afirmam: “É importante deixar claro que o Ministério Público Federal jamais usa qualquer informação ou documento de tratativas de colaboração que não conduziram a um acordo assinado”.

Qual é o ponto? Na denúncia, a força-tarefa sustenta que o tríplex de Guarujá e os recursos para o armazenamento do acervo que Lula acumulou nos oito anos de Presidência saíram de uma espécie de conta corrente da propina, de um “caixa geral”, para ficar na linguagem da denúncia. Ocorre que essa informação não está em nenhum outro lugar a não ser no tal pré-acordo, que foi para o triturador de papel. Como os próprios procuradores dão a entender, o uso de uma informação descartada seria ilícito.

A força-tarefa não esclarece, na nota, de onde saiu a informação. Lá se lê o seguinte:
“A existência do sistema de caixa geral de propinas já é conhecida pelas investigações há muito tempo, pois se trata do principal método utilizado para o controle do pagamento de propinas pelos partidos envolvidos com a corrupção na Petrobras. O uso do sistema é revelado, por exemplo, pelos depoimentos de Ricardo Pessoa em relação aos pagamentos efetuados pela empreiteira UTC em benefício de José Dirceu, pelas declarações de Delcídio do Amaral e pelos já conhecidos depoimentos de Alberto Youssef e Paulo Roberto Costa, estes últimos em relação ao Partido Progressista. Tais depoimentos são corroborados ainda pelo modo como a corrupção funcionou em casos que já foram objeto de acusação e condenação.”

Depois de citar outros exemplos, os procuradores afirmam, à guisa de conclusão: “Portanto, tal metodologia de caixa geral era amplamente conhecida pelos investigadores, pois já foi amplamente comprovada pelos depoimentos e pela sistemática dos pagamentos. Some-se o próprio fato de que todos os tesoureiros do Partido dos Trabalhadores desde 2005 estão presos pelo seu envolvimento em tarefas desse tipo. A sistemática do caixa geral foi, até mesmo, reconhecida na sentença condenatória de José Dirceu.”

Ou por outra: sem a delação de Léo Pinheiro, que foi descartada sem que os brasileiros saibam por quê, fica claro que a força-tarefa não tem como provar que a OAS pagou propina a Lula, restando a justificativa de que assim era porque assim se fazia.

Batata quente
Quem está com a batata quente é o juiz Sergio Moro, que vai decidir se aceita ou não a denúncia oferecida pelo Ministério Público. Cumpre lembrar que o Lula como eventual chefe da organização criminosa é matéria de outra investigação, que não está a cargo de Curitiba. A defesa de Lula sustenta que a denúncia do Ministério Público não está ancorada em provas. A julgar pela nota divulgada pelos procuradores, não está mesmo. A nota, na verdade, diz o seguinte: como é assim em outros casos, então deve ser neste também.

Pergunta: quem mandou Janot jogar fora a delação de Léo Pinheiro?

Qualquer um que saiba ler percebeu que a nota dos procuradores tentou desmentir a reportagem da Folha e acabou por endossá-la.

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